segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Prajna - Curso do Gustavo Gitti no CEBB Rio

Prajna. Curso do Gustavo Gitti no CEBB Rio. Dezembro de 2015. Minhas anotações 

Budismo se resume a três práticas:

1- Energia estável autônoma. Shamata.
2- Lucidez. Sabedoria do silêncio. Prajna. Olhar não perturbado.
3- Compaixão. Bodicita. Metabavana.

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Tudo no Budismo é para liberar o sofrimento. Sabedoria é o que mais funciona (Prajna).

Essa teoria tem a ver com a vida da Pessoa. Não separar. Importância de falar como foi a semana na sanga: mostrar as dificuldades de manter a visão sem condicionamentos de cada um ajuda a analisar a própria vida.

Na visão prajna, é como se tudo que qualquer pessoa nos diga seja mentira.
Prajna é liberar qualquer sensação de solidez. Acaba com a necessidade de qualquer terapia. Tudo é sonho. Inclusive o passado.

É preciso liberar as coisas e a vida. Nascemos no processo condicionado. Nascemos tortos. A partir de condicionantes. O carma gera a individualidade.  Para a liberação não podemos levar nada. É preciso soltar. Não há algo topo numa carreira ou acúmulo em um eu praticante no caminho budista.

Liberar é rir para as coisas. Átomos. Big bang. Nós estarmos no Rio de Janeiro, com mãe,  esposa, idade, carteira de identidade etc.

Nossa vida parece maior que a prática. Deveria ser o contrário. Prajna explode a visão tradicional.

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O único jeito de ir além de vida é morte é não ser uma pessoa. É ABRIR ESPAÇO PARA AS SABEDORIAS ATEMPORAIS.

Não há como entender. Melhor ver além de nossos conceitos e visões limitadas. Não é entender!

Queremos chão e certezas mas o prajnaparamita tira o chão e as certezas.

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Geralmente, a gente nunca olha pras coisas, apenas reagimos. Olhando com sabedoria todas as coisas perdem poder. Todas.

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1a prática - não reagir
2a - olhar (a bolha de realidade como bolha)

Qualquer aparência não reconhecida faz a gente nascer dentro de um bolha.

Todos os sofrimentos são assim. Todas as experiências. Prajna é um ensinamento temporário para sair da bolha. Shamata fora da bolha é repousar na presença.

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Com base em coisas sem base construímos coisas enormes.  Como começa um namoro? Como uma parede começa? A partir de que número de tijolos? Como surge o tijolo? Quando deixa de ser barro? Como surge o CEBB?

Do ponto de vista do Prajna,  casar é igual a pintar uma parede de azul.

Nossa vida não deve atrapalhar nosso caminho de bodisatva. Os referenciais mudam todos com a prática. É mais importante não achar que somos seres tortos do que tentar desentortar ou fazer análise, terapia, tentar resolver etc.

"As coisas não são o que parecem. Nem qualquer outra coisa." - Lakavantara sutra

É como se houvesse a Matrix realmente mas sem Sião, sem qualquer outra coisa.

Não há tempo ou lugar melhor para sair do sonho.

Não devemos criar num identidade a mais de praticante.

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Dançar, brincar, sorrir das aparências.

Acreditar em duendes ou em marido é a mesma coisa.

Só com Prajna entendemos grandes praticantes voarem ou marcarem pedras com as mãos de forma natural. Que nem andar de metrô.

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Em qualquer momento do sonho é a mesma dificuldade para sair dele. Não cair na armadilha de momento ou lugar ideal. Agora é nas condições atuais é o ideal sempre.

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Todas as coisas que parecem dadas se tornam dúvida com o Prajna. De onde vem o azul que vemos nos objetos? Não está nos objetos, nem entre os olhos e os objetos, nem nos olhos.

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Avidya: no sonho e na vida não vemos o começo. No sonho conseguimos ver algo além do nascimento e morte do sonho. Temos que fazer isso com a vida. Isso é Prajna.

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A partir do Prajna começamos a apreciar tudo. Termos duas mãos. Dez dedos. Realidade mais lúdica. A compreensibilidade da linguagem (que é a própria compaixão, Chenrezig, segundo o Lama).

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Prajna é momento a momentos. segundo a segundo. Costurando momentos contamos histórias e entramos em bolhas. Momento a momento não há namoro. Há uma conversa, um olhar etc.

Não há problemas voltar pra bolhas. Temos vislumbres rápidos. O grande trabalho é estabilizar.

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Exemplo de bolha sem sentido: futebol.  Torcemos para camisas. Os jogadores mudam. Termos energia condicionada por uma bola entrar ou não num lugar. Milhões em dinheiro por isso. Pessoas se matando.

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É preciso parar. É a reação que sustenta a bolha. Diário como forma de não soltar. Melhor ficar quieto. Se você para não há sofrimento. O sofrimento é como um beliscão que nos damos constantemente.  Na realidade (espaço livre) não tem sofrimento.

Não se nega a realidade relativa das coisas. O sofrimento vem de não relativizar. Ver solidez. Não ver a construção. Não ver como a experiência de algo, mas algo sólido.

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4 jeitos de operar:

Ex.: medo do escuro

1- grosseira. Resolver. Acender a luz.
2- disciplina. Repressão.
3- mudança de paisagem. Mudar de bolha. Ressignificar o escuro, lembrar de algo bom no escuro.
4- liberar. Só olhar. Uau!

Com a morte nenhuma das três funciona. Só a quarta.

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Caminho octuplo:
6- shamata (seria como a tecnologia)
7- prajna (seria como a ciência)

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Buda não mantém teorias arbitrárias sobre a realidade. Sabedoria não é construção ou teoria. É silêncio não condicionado. Do lugar não construído, vemos as construções.

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Vacuidade é vaziez

Forma é aparência.  É experiência de algo.

Na ciência também tudo é aparência. Não se chega a alguma coisa.

Vacuidade tá ligada com a liberdade. Não tem Fabio no Fabio. :)

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Prajna: Além dos extremos, sem ser intermediário. Ser e não ser. Extremos impedem de ver a natureza livre.

Tetralema de Nagarjuna (serve para qualquer afirmação )

1- é
2- não é
3- é e não é
4- não é nem é

Vazio é forma: nega o vale tudo. Vacuidade sem ética é porque você não entendeu a vacuidade. Dentro do sonho, quanto mais entendemos que as coisas são vazias e luminosas, mais cuidado e ética.

Na própria aparência é que vemos essa liberdade. A vaziez. A vacuidade.

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Forma é vazio. Vazio é forma.

Não tem algo. Nem não tem.

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O Darma está escrito nos darmas (aparências).

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No Budismo temos seis mentes. 5 associadas aos sentidos mais a mente da mente. Todas deludidas. :)

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Avidya: a aparência que a própria mente criou começa a controlar a mente. Nos prendemos nos mundos que criamos. A gente acha que o mundo é autossustentável, mas nós é que sustentamos com nosso olhar as bolhas de realidade que criamos.

OBS.: Melhor evitar qualquer coisa que gere sofrimento. Ainda mais se desenvolvermos nossa prática e pudermos ver como as ações pequenas podem causar um sofrimento enorme, justamente pela vacuidade de tudo  aceitar qualquer luminosidade. Em nós mesmos pelo carma ou diretamente na outra pessoa. Exemplo: você trai e a pessoa e ela se mata por causa disso... Imagine o carma negativo gerado para ambos! A visão de Prajna aumenta nossa responsabilidade ética e não o contrário ("Vale tudo, se é tudo vazio").

Gustavo Gitti - Relacionamentos lúcidos - palestra Cebb Rio - dezembro de 2015

Gustavo Gitti - Relacionamentos lúcidos - palestra Cebb Rio - dezembro de 2015 -  Meu resumo e anotações

Buda fala a realidade e não suas ideias próprias.
Experiência condicionada. Experiência cíclica de insatisfação. Duka. A causa da felicidade é a mesma do sofrimento. Se for condicionada.

Ansiedade: queremos a saída sem entender o sofrimento. A primeira coisa é olhar o sofrimento próprio e ao redor.

Começo de namoro: A causa da felicidade já sabemos que será a mesma do sofrimento. Nossa dependência energética. No início do início do namoro, deixamos noa abalar uma demora na resposta do whatsapp etc. É a mesma dependência energética que vai fazer doer a falta no final do namoro. Como se entrássemos numa piscina estranhando: "Está me molhando!" "Está me molhando!"

Não tem ninguém feliz apesar das fotos do Facebook. Perguntem às pessoas. Casal - estão repousados. Muitas vezes um deixando o outro mais estagnado. Em geral, não é amor genuíno e sem apego.

Duka é como a própria respiração. Não dá para parar. Igual a ajustar de posição na meditação. Nunca encontramos uma bolha dourada. Um galho último.  Não há cobertor que nos cubra inteiros. Procurar no samsara é perda de tempo. A saída é a iluminação.

Exemplo: Entramos numa relação com uma pessoa cuja mente não para pôr três segundos. Ela fala - eu te amo e que vai cuidar muito de você - mas como acreditar? Como procurar estabilidade assim? Não tem como dar certo. Com energia condicionada. Dependendo do outro e de suas ações para a nossa energia. Para completar, entramos na relação autocentrados. Mas de outro modo é  possível. Por que não começar com ambos fazendo shamata? :)

Por isso, é preciso estudar a origem mais sutil do sofrimento. Por que sofremos?
Estamos há muito tempo colecionando soluções mas não sabemos qual é o problema.
O problema não é falta ou excesso de sexo ou liberdade. Nem amor livre ou padrão.

Para não perder tempo, eh preciso buscar a solução mais profunda. É possível liberar o sofrimento em nós é nos outros.

Nossos meios hábeis vão vir justamente de olhar nosso próprio caminho de sofrimento. Por exemplo, ser traído ajuda a ajudar traídos.

O desejo no fundo é chegar em casa, paz. Então o que queremos mesmo é a iluminação. Nunca encontraremos isso com as coisas do mundo todas, inclusive relações.

Mudanças no caminho não mudam a insatisfatoriedade. Exemplo: largar emprego. Daqui a pouco a pessoa já está pirando por não ter nada pra fazer... É assim com tudo no mundo.
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Terceira nobre verdade: a liberação é possível. É preciso confiar na total liberação. Por exemplo, total liberação do ciúme. Total liberação da competição. É preciso de algo total. Acreditarmos nisso. Mesmo ainda não estando com esta capacidade.
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Quarta nobre verdade: há o caminho. Precisamos praticar. Se há um caminho, é possível!
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Tipos do sofrimento :
1- sofrimento da dor (evidente, o próprio sofrimento)
2- sofrimento da mudança, da impermanência. Incapacidade de estabilização em bolhas, mesmo boas. Castelos de areia.
3- sofrimento todo pervasivo. Cuja origem é a ignorância. Só o fato de estar na bolha. Exemplo: achar que está casado. Achar que é um marido. Achar que há uma esposa. "Se achando". Operando com avidya. Difícil liberação. Para sair: prajna! Sair do excesso de seriedade. Não acreditar tão solidamente nos papéis que desempenhamos no teatro da vida.
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Pessoa sofrendo ao contar sua dor: dá detalhes. Quer que você entenda. Detalhes inúteis. Apenas conta fatos. Nível grosseiro. ("Estou me molhando!") Não analisa o principal, além dos fatos: porque a afeta. Nível sutil.
Todos os conselhos são tentar resolver ou controlar no nível grosseiro. Inútil. Melhor não dar conselho assim, em geral. Primeira nobre verdade: o mundo não é consertável. As coisas não são resolviveis. Isso é um alívio!
Há um lugar onde está tudo resolvido. A terceira nobre verdade.

A felicidade não vem de histórias ou ajustes. Nem de histórias que deram certo.
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Exemplo: Traição. Eh apenas uma relação  paralela, mesmo que seja algo não ético e que cause sofrimento. Mas é melhor evitar.

Melhor evitar qualquer coisa que gere sofrimento. Ainda mais se desenvolvermos nossa prática e pudermos ver como as ações pequenas podem causar um sofrimento enorme, justamente pela vacuidade de tudo  aceitar qualquer luminosidade. Em nós mesmos pelo carma ou diretamente na outra pessoa. Exemplo: você trai e a pessoa e ela se mata por causa disso... Imagine o carma negativo gerado para ambos! A visão de Prajna aumenta nossa responsabilidade ética e não o contrário ("Vale tudo, se é tudo vazio").

Ao mesmo tempo, olhando do ponto de vista do traído (e não como desculpa para trair), comparemos com a amizade. A amizade é uma relação paralela. Por que não nos faz sofrer tanto? Pode dar a mão?  Pode. O ombro? Rs. Qual o limite? Há uma questão cultural etc.
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O traído sofre não é pelo que o outro fez. Início de toda relação: surgiu energia. Não interessa a história.  No segundo encontro, mantém a energia. O que interessa não é o outro, é a energia q surge em nós. Poder um sobre o outro e controle. Não percebemos que isso nos controla: nossa energia na dependência do outro. Condicionada. Isso é o início real de toda relação. Tudo faz sentido e brilha quando apaixonamos. Mas a causa não é nada do que a pessoa faz ou fala ou é: é a energia condicionada se manifestando em nós.
Por isso, se supera um ex com muita facilidade, em geral, ao se apaixonar por outra pessoa.
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A saída : energia autônoma
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Todos andam com energia baixa, reféns das pessoas que a aumentam. Famintos. Mesmo em coisas menores. Um olhar. Um e-mail etc.
Mas o outro não tem esse poder. Quem brilha é a gente. É a nossa energia.
Não bancamos os nosso mundo interno. O outro ganha a tarefa de não nos perturbar.
Experimentar: uma semana sem exigir nada de ninguém. Sem cobrar, sem reclamar, sem pedir explicação, sem fazer jogos em busca de mais energia condicionada.
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Nossas teorias de como a vida deveria ser nos impedem de olhar pra vida.
Problemas na crise:
1-Reatividade rápida. Com seriedade e fixação e não um autoexame com mais calma. Conclusão rápida.
2-Muitas certezas
Repetimos infinitas vezes as ações negativas que o outro nos fez por dias. O corpo reage como se fosse o fato original toda vez. Biologicamente comprovado. Melhor soltar. Não há solidez. Não congelar o outro. Deixar sem resolver ou entender ou vingar etc. Apenas soltar.
No meio da depressão ou crise a gente se distrai e fica bem. Mas lembramos... onde está a traição agora? Onde está o processo de divórcio agora? Não há essa solidez. Isso é avidya. A gente sofre pelo pensar. De nossa solidificação de falas do outro. Mas as falas são emocionais e passageiras, mudam. Não ver solidez em elogios nem em falas negativas. Ou atos.
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Saída :
Energia autônoma
Mais brincadeira. Menos solidez. Perceber que não há namoradas ou esposas, só pessoas livres. Nem nada no samsara. Coemergência.
Olhar quando começou o namoro. Difícil achar o exato momento.
Não é preciso entender ou resolver histórias. É só soltar. Seguimos respirando. Segue tudo igual. Respira. É só o que precisamos. Respirar.
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Autocentramento. Terceira causa. Visão utilitária dos outros. Quem sofre só fala de si mesmo. É a raiz do sofrimento.  Melhor desejar que todas as pessoas sejam felizes do que querer arrumar nossos "meus". Inclusive meu casamento e meu namoro.
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Amar é desejar a felicidade do outro.
Só conseguimos sendo verdadeiramente felizes. Temos que achar que a felicidade verdadeira é possível.

Outros links sobre nossa cegueira no amor romântico: