quinta-feira, 5 de março de 2015

História da Expansão do CEBB - Transcrição

História da Expansão do CEBB

Transcrição da palestra "O que estamos fazendo no CEBB #3" - Lama Padma Samten - 2015


( Para o Ação Nalanda, mandala de transcrição do CEBB )


[O encontro de facilitadores do CEBB]
(Preces e mantras) Bom dia. Então, eu queria dizer também, confessar minha alegria de ver vocês aqui, né? Todo mundo... Cada um vem de um lugar, né? Isso é uma coisa rara, a gente poder se encontrar todos no mesmo espaço nesse tempo assim, né? Então é um momento especial, é como se fosse um dia, assim. A gente se encontra, né? Cada um vem de um lado, né? E hoje eu tava vendo as pessoas também conversando, né? E é bonito de ver. Porque não tem muitas oportunidades, fisicamente, da gente se encontrar, né? Ainda que a gente esteja fazendo as mesmas coisas. Todo mundo tá sabendo um pouco uns dos outros, né? Mas é super bom a gente se encontrar pessoalmente assim. Muito bom isso.

[Aspectos Grosseiros do CEBB]
Então, eu tava falando dos aspectos mais sutis, né? Agora eu vou falar do aspectos mais grosseiros: os terrenos, as obras, as coisas assim. O que nós tamos fazendo, né? O que que a gente tá pensando em fazer ainda... Como é que tá isso, né? E, nesse encontro, também vão surgir outras ideias e aquilo vai evoluindo. Então, é super importante a gente ter essa oportunidade de trocar, de sentir. Eu acho que a maior parte de vocês sabe o que eu tô pensando porque eu tenho falado constantemente assim, né? Mas é bom falar de novo, né? Sempre tem alguma coisa nova, né?

[História da Expansão do CEBB – Primeiro endereço: POA]
Então eu vou lembrar de forma rápida como é que começou essa expansão e o que é que tá motivando essa expansão, o que é que tem acontecido, né? Então, o que aconteceu é assim: o CEBB, na verdade, começou em Porto Alegre, né? Vou contar a história bem curta. Porto Alegre. Rua Barão do Serro Largo, 487. Antes disso, o CEBB teve vários funcionamentos. O embrião, o início, o coração começou a pulsar foi na casa do Celso Marques. A gente começou fazendo as práticas de zazen nos sábados. Depois, a gente abriu um horário nas quartas. Depois, a gente abriu um horário segundas. Depois, aquilo ficou segunda, terça, quarta, quinta... No fim, a gente tomou conta da casa do Celso. Aí aquilo começou a incomodar um pouco... Era uma casa, uma casa de família. Ele não nos expulsou, né? Mas a gente viu que não tava bom pra ele.

[História da Expansão do CEBB – Segundo endereço: POA]
Aí, com o tempo, a gente começou a procurar algum outro espaço que poderia ser útil. A gente fazia meditação quatro e meia da manhã. Era um tempo especial. Eu tinha um fusca e o fusca pegava as pessoas nas várias casas e levava, aí vinha mais alguns carros e a gente praticava. A gente começou a praticar também na casa do Murian, no apartamento do Maurian. Aquilo foi um período super interessante, porque eu vi as crianças dele crescerem, né? Hoje o filhinho deles é o Uzi (?) lá do Gonpa, né? Tá há muito tempo lá no Gonpa, muitos anos. Então, surgiu uma sanga maravilhosa. Eu vi eles nascendo, vi na barriga das mães, aquilo foi indo, assim. Por isso que quando eu vejo uma mulher grávida, já me alegro. Só que mais adiante... (risos) Eu vejo os praticantes nascendo, vi a mamãe da Tatá, também. O tempo passa. Acho super bonito isso. O tempo vai passando e – quem diria? – a Tatá olha como tá, maravilhosa. (risos) Aquilo vai indo... É muito bom. Então, tem esse aspecto assim, antigo, né? Aí o CEBB num certo momento se estabeleceu na Barão do Serro Largo, 487. Porque a minha mãe morava em Porto Alegre e se mudou pra Rio Grande. Aí eu comecei a afastar os móveis da sala. A gente fazia prática. (risos) Aí, com o tempo eu tirei os móveis da sala, empurrei pra algum lugar e aquilo ficou. Aí, de vez em quando, ela vinha e olhava aquilo. Achava mais ou menos... Aí, ela resolveu fazer um investimento: fez uma lage em cima da casa e fez a sala de meditação em cima, né? Ali ficou um lugar super agradável. Muito bom, né? Então, a gente usou durante um longo tempo. O Lodi Gyari Rinpoche teve lá. Foi um tempo assim, né? Teve outras pessoas super conectadas as SSDL. Foi no período em que a gente tava recebendo os organizadores pra poder receber o Dalai Lama em Porto Alegre. A gente começou a organizar eventos em Porto Alegre, junto com a universidade, Sociedade Brasileira de Física, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Universidade Federal ... A gente começou a organizar eventos de 3 meses de duração com diferentes palestrantes toda semana. Foi no final da década de 80. Aí veio o Alex Perzim, veio Jose Ignacio Cabezon... Ele foi um dos tradutores do Dalai Lama por várias vezes... Quando o Dalai Lama ia a Bodigaya, tinha o encontro com as sangas e aí ele traduziu, várias vezes. Ele tem muitos livros publicados. Ele teve aqui no sul duas vezes. Aí, naturalmente veio a Hélia Diski (?), vieram muitas pessoas. As sangas tavam todas iniciando, porque os anos 80 foi o início das sangas, né? Aí aquilo foi andando. Mas teve um certo momento em que a sala ficou pequena também. Naquela sala o Chagdud Rinpoche deu a primeira iniciação. Deu iniciação de Guru Rinpoche, deu iniciação de Ngondro. Foi onde a gente começou também as práticas de Ngondro, naquelas salas. O monge Tokuda também. Aquilo foi interessante, né? Porque o monge Tokuda chegou no dia em que nós távamos finalizando a sala. Nós tínhamos pintado, arrumado, ajeitado tudo... A sala tinha sido construída e nós távamos finalizando, né? A gente queria fazer o primeiro zazen ali. Não conseguiu. O primeiro zazen já foi feito com o Tokuda. O Tokuda chegou na manhã seguinte, entrou – “Já tem vibração nessa sala”. Aí ele deu nome pra sala, deu nome pro centro zen, foi um momento interessante, foi muito bom. E a gente funcionou por muitos anos ali. Mas aí, enfim, a sala começou a ficar pequena. Quando Rinpoche ia a Porto Alegre, a sala (lotava). Aí, no fim, quando eu tava lá também, a sala (lotava). Aí um dia surgiu essa ideia – “Quem sabe a gente compra uma área...”

[História da Expansão do CEBB – Terceiro endereço: Viamão]
E aí no fim a gente comprou essa área aqui em Viamão. Foi no ano de 97. E aí, em 97, a gente se mudou pra cá. E já chamava “Caminho do Meio”, né? A gente aproveitou o nome. CEBB Caminho do Meio. A gente leu uma previsão: “No futuro, haverá um centro budista no Brasil num local chamado Estrada do caminho do meio...” (risos) Não, isso não havia não. Tô brincando. Mas é um bom lugar, né? Aí a gente se estabeleceu aqui. A gente pensou: “Bom, agora sim.” Mas era um tempo em que tinha muito menos movimento ao redor. E a cidade, a zona metropolitana, vai crescendo, crescendo, crescendo... Aí começou a surgir um pouco de ruído. No início, aqui era super heroico. Era como se fosse um pouco afastado, realmente. Por exemplo, não pegava celular e não tinha linha telefônica fixa. E não tinha internet. Era assim. Pra mandar um recado, pega o cavalo e leva até lá. (risos) Era um tempo heroico, era bonito. 97, vocês pensem... Há pouco tempo atrás, né? Até a gente ter a primeira linha física e os celulares começarem a funcionar levou um tempo. Aí veio a linha física, veio a internet... Mas, sempre difícil a linha física, tinha ruído, complicado. A gente nunca conseguiu uma linha física boa, até que a gente desistiu. Hoje a nossa linha é de celular. A física é melhor abandonar. Aí, a gente começou os retiros. Os retiros curtos, um pouco maiores, os retiros de 3 meses, no Lótus Dourado, uma casinha de madeira dentro do bosque. Super bom. Aquilo parecia maravilhoso.

[História da Expansão do CEBB – Pernambuco]
Aí, com o tempo, começou a ter uma demanda. Aí já não tinha muitos horários, não tinha muito espaço pras pessoas fazerem retiro. E as pessoas começaram a querer fazer retiros mais longos também. Aí o que aconteceu? Surgiu uma oferta de uma área de terra em Pernambuco. Eu achei aquilo maravilhoso, porque ampliava em direção ao Nordeste, que eu já tava visitando há muitos anos. Eu achei super bom. A primeira visita ao nordeste foi a Ana Rickley (?). Ela me convidou porque ela era consultora de organizações. Ela me convidou nesse âmbito. Aí eu fui lá. E a Ana tinha uma conexão com o Gonpa, de algum modo. Chagdud Gonpa. Então, quando eu cheguei ao Nordeste eu ajudei um bocado lá, a consolidação do Chagdud Gonpa no local. Aí aquilo funcionou bem durante um bom tempo. Mais adiante, o grupo da Bahia também apoiou o surgimento do grupo de Pernambuco. A gente pensa que é ao contrário, né? Mas na verdade foi assim: primeiro a Bahia, depois Pernambuco. Foi o Valência (?). Esse ano o Valência (?) teve aqui também em dezembro. O Valência (?) que me convidou também dentro de um âmbito de empresas. Não sei se era 20 anos da empresa dele ou 30 anos, foi uma coisa assim. Ele convidou todos os facilitadores do grupo dele e teve um encontro grande lá em Pernambuco e ele me convidou. Aí, eu tava lá. Era um encontro esquisito, daqueles encontros empresariais: uma grande mesa num hotel (risos). Bonito. Mas aí, o Valência (?) e a família dele apoiaram durante um longo tempo. A Albânia (?) também veio várias vezes aqui . Albânia (?) é a esposa dele. Ela terminou sendo coordenadora do CEBB lá de Pernambuco e aquilo avançou. Foi avançando. Até que nós tivemos esse oferecimento da terra pelo Roberto Fischer (?) e aquilo foi um período muito interessante, que teve várias nuances. Mas, enfim, nós tamos lá numa área de 15 hectares. Escriturada, direitinho, e nessa área a gente conseguiu estabelecer um centro de retiros aonde as pessoas têm feito retiros mais longos. 1 ano, 2 anos, 3 anos... Tem feito lá. É uma área isolada. E a gente continua construindo, continua melhorando lá. E aquela área me pareceu muito favorável porque ela tá no meio de um arco que vai de Salvador a Fortaleza. E ela tá equidistante de Recife e João Pessoa. Então, já é uma área interessante, assim. As pessoas podem se deslocar por 100 km e chegam ali, né? Tanto de Recife quanto de João Pessoa. E, um pouco adiante, Natal. Então, aquilo pode dar origem e servir de apoio àquela região toda. É o que eu tava imaginando, né? Enfim, especialmente pelo trabalho agora do Henrique, que tá localizado lá, da Bia, da Marcinha, teve uma grande expansão, com o apoio da sanga de Recife. Do João, da Flori (?)... Um grupo bem grande, assim, né? Teve uma expansão acentuada. Então, os retiros lá – de modo geral – têm a sala cheia. Vem gente de todo lado do Nordeste, né? Super bonito, assim. Agora, bem recentemente, da última vez que eu tive lá, eu vi um grupo grande de jovens que tão se deslocando pra morar lá, na área. Achei aquilo super bom, assim, maravilhoso. Então eu considero que tem um grande êxito nessa localização no Nordeste. Ontem eu tava falando com o monge Monteiro e ele tava me falando porque é muito difícil o Nordeste. Ele tava me explicando porque é que o Darma vai entrar com grande dificuldade no Nordeste. Eu achei interessante mas, de qualquer maneira, não é assim, né? Então, ele tava dizendo como tem o aspecto familiar e cristão e católico ou evangélico, é super fechado no Nordeste. Então, como é difícil uma pessoa se tornar praticante, porque ela é policiada pelo resto da família, que é muito próxima e começa a pressionar, assim, né? De qualquer maneira, nós tamos avançando. Não sei. Isso eu não conversei nem com a Flori (?) nem com ninguém do Nordeste, não sei como é que é isso. De qualquer maneira, a gente desconhecendo isso, a gente fez coisa andando, né? Então, foi o segundo centro rural, assim, foi Recife, né? Quer dizer, foi Timbaúba.

[História da Expansão do CEBB – Brasília e Alto Paraíso]
E depois surgiu – bem recentemente, né? – a Inês apareceu por Brasília. E de Brasília ela foi com uns amigos da própria sanga...  A sanga de Brasília surgiu assim como da noite pro dia, né? Parecia que aquilo tava pronto, né? Foi impressionante. E surgiu com força: gente articulada, inteligente, capaz de fazer as coisas funcionarem. Foi super rápido. E de Brasília, apareceram pessoas que tinha casas e tinham contatos em Alto Paraíso. Daí eu pedi pra Inês ir lá pra dar uma olhada. A Inês achou aquilo super propício. Aí eu fui lá também e achei aquilo maravilhoso. Pensei assim: “Vou morar aqui. Vou me deslocar pra cá.” Por que? Porque - a água límpida. Pros paulistanos a gente tem que começar falando assim, né? (risos) Água límpida, abundante. (risos) Pros cariocas também, agora a situação tá assim, né? Aí, aquilo maravilhoso. Montanhas assim que parece que são de outro planeta. Montanhas incríveis, né? Maravilhoso. Sol límpido, céu límpido. Um perfume no ar, né? Depois a gente conseguiu uma área do lado do Rio dos Couros que divide com o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros com 65 mil hectares. Então, nosso quintal é 65 mil hectares preservados. Pensem! A gente pode ter assim 100 metros quadrados, aí tem o parque todo ali. Isso é uma boa coisa. É, o jardim de Maitreya. Tem esses nomes todos. A cidade, a avenida principal da cidade é Avenida Kundalini. (risos) A cidade é dividida em chacras. (risos) É tudo assim. (risos) No pórtico da cidade, uma nave, assim, disco voador. A praça é pros vários elementos, assim. Super. Tem um Guru Rinpoche, me admirei. Tem muitos grupos que tão escondidos em vários lugares, aí eu fui lá visitar um dos grupos e tem uma enorme estátua de Guru Rinpoche, na beira do Rio dos Couros. Eu juro pra vocês que, quando eu olhei pra ele, ele piscou o olho. (risos) Vocês vão dizer que não foi mas foi. (risos) E ele fez assim, atrasado né? (risos) Maravilhoso. Aí eu tava vendo o que que Guru Rinpoche vai fazer... Porque eles construíram a estátua na beira do rio e não pode, né? Tem as normas ambientais – tem que ter 15 metros, 30 metros... Não pode construir, mas eles construíram na beira do rio. Pensei: “Agora eu quero ver como é que eles vão fazer pra desmanchar o Guru Rinpoche. Eles não vao conseguir, né?” E não conseguiram. Guru Rinpoche ficou lá. Então, é assim, tem muitos grupos interessantes, né? Porque, vocês sabem, essa coisa do samsara, vai apertando daqui e dali e as pessoas – vlupt – vão pra algum lugar mais perto de um portal cósmico. O pessoal vai pra Alto Paraíso. Aí tem muitos grupos interessantes, né? E a gente começou a interagir. Então eu acho que uma das coisas maravilhosas de lá é essa riqueza humana. A riqueza também da cidade. Eles olham pra nós e sabem o que é que nós tamos fazendo. Super bonito. E aí nós chegamos lá e a gente começou a conversar e a organizar eventos de diálogo com os vários grupos, né? Aquilo foi super bom. Porque cada um chegava como salvador, né? Então eles têm uma certa dificuldade de conversar uns com os outros. Aí a gente chegou lá conversando. Aquilo ajudou bastante. E, logo em seguida, a gente também se conectou com a Escola Vila Verde. E a gente terminou incorporando a escola pra nós, porque eles tavam com alguma dificuldade... A gente terminou assumindo. A pessoa que tava dirigindo a escola, ele era um xamã colombiano, uma pessoa super legal, assim. Mas ele tava fora, com desvio de função, né? Assim, era um xamã gerindo (risos), aquilo não tava dando muito certo, assim. (risos) Aquilo não tava indo muito bem, né? Então, agora aquilo tomou um rumo, assim. Eu pedi pro Fernando e pra Eliane irem pra lá, aí eles saíram de Maceió e se deslocaram pra lá. Então, nós tamos reforçando, assim, reforçando o funcionamento da escola. O Edgar e a Maria Eugênia ajudaram muito, assim, eles colocaram em ordem a escola esse ano, né? A parte contábil. A escola era deficitária. A gente conseguiu – mais ou menos – arrumar aquilo. Então, a gente tá avançando. Foi uma super aventura.

[História da Expansão do CEBB – Recôncavo]
Aí, nesse ínterim, a Ana Ricl também queria uma terra assim - ela tinha esse sonho. Enfim, agora a gente tem o CEBB Recôncavo, que é um lugar super bonito. Depois, a Ana vai falar um pouco. O aspecto do local, assim. Um local tradicional dentro da Bahia. Lugar super especial. Enfim, foi uma coisa hábil da Ana, porque ela comprou uma pousada. Aquilo já tava pronto, assim, né? Tudo funcionando. Pousada dum casal francês. Então, é muito legal. Tem casas nas árvores - tem umas coisas assim, né? Tá pronto. Tem asfalto na frente. Tudo pronto. Água, luz... Tudo funcionando. Foi uma grande vantagem. E agora eles tão se preparando pra construir o prédio. Tem projetos de engenharia, de arquitetura e tá avançando assim. Muitos consultores... Ana vai organizando. Não sei bem, deve começar em breve, né? É. É interessante que dentro da área tinha uma antiga igreja da região. Uma igrejinha bem pequena, assim.
Ana: – Quando a gente transformou a gente percebeu que tinha ainda a marca do altar. E tinha a marca da porta de entrada. E aí ficamos sabendo que aquilo era uma igreja. Que já foi igreja há mais de 20 anos atrás. E, pra nossa surpresa, a cruz da igreja tá lá. Quando a gente passa, a primeira árvore, ela tá lá. Naquele pé de árvore, há mais de 20 anos, aquela cruz tava ali, né?
Lama: – E ela tem uma ligação emocional com a região, né? Pessoas casaram, batizaram os filhos... A gente resolveu botar aquilo de volta. Arrumar, né?
Ana:  - É.
Lama: - Nós vamos chamar um padre lá.
Então essas eram as nossas conversas, né? Então, tá avançando.

[História da Expansão do CEBB – Curitiba]
E aí o Bruno tinha esse pensamento antigo, assim. Da coordenação lá do CEBB Curitiba. Muitas vezes tínhamos sonhado, tínhamos olhado terras... A gente tinha avançado e daí surgiu essa decisão. Apareceu uma área maravilhosa também.  Eu pensei: “Bá, eu vou pra lá.” Eu sou volúvel, como vocês veem. (risos) Timbaúba também. “Vou pra Timbaúba.” Construí uma casa, depois construí mais uma lá. Vou pra lá. Aí pensei: “Bá, Curitiba... É especial, né?” Nós tamos a 25 km do aeroporto ali. Em rota direta, não passa nem pela cidade. Uma zona preservada, estrada construída por Dom João. Dom Pedro, aliás. E uma zona que se tu segue dá pra descer de bicicleta até Paranaguá. Uma super descida né? Um caminho super especial. Acho que foi duas ou três vezes – a gente foi de bicicleta do CEBB Curitiba até a área lá, dá 35 km. A gente foi e voltou. Super bom. Passando por cidadezinhas pequenas ou indo pela rodovia dá pra chegar lá. Achei aquilo maravilhoso. Uma área que seria 85 hectares, né? Era 90, virou 85. Agora vai virar 80. E fonte d´água... Viu paulistanos e cariocas e mineiros? Bastante água. Maravilhoso. Fica junto daquele morro que... Anhangava. Fica na divisa do parque. Então, um lugar super bonito, um bosque denso, com áreas planas gramadas (risos) para o bem ou para o mal, né? Lugares super bonitos, como bosques de eucaliptos também. Dá pra construir depois dentro, né? Utilizar madeira e tudo. Uma estrada de asfalto na frente. Muito bom. Muito bom. Harmonizado. A vizinhança toda entendendo o que nós tamos fazendo. Dando apoio. A primeira sanga fora de Porto Alegre foi Curitiba, né? É muito antiga. Tá consolidada lá há anos, né? As pessoas tem uma maturidade sobre o que estão fazendo. Então, muito bom.

[História da Expansão do CEBB – Florianópolis]
Antes disso, Canelinha, né? Pouco antes de... Onde é que tá o Rossano? Ali. Aí, um pouco antes da terra de Curitiba, a sanga também de Florianópolis, uma sanga antiga, né? Madura também, né? Ainda que passe por várias coisas assim... (risos) Várias fases, né? (risos) Mas é uma sanga consolidada, com várias cidades no interior também. Com práticas, né? Aí a sanga de Santa Catarina se reuniu, a gente também olhou muitas diferentes áreas até que a gente se decidiu por aquela. Nesse momento, a gente tá com o templo praticamente... Quer dizer, ele tá com as paredes e o piso. Falta o teto. Mas isso não é um grande problema, né? Na verdade já tá tudo projetado direitinho, eles vão no final de fevereiro começar a obra. É isso, né? É. Pra colocar aquilo é uma coisa rápida. É rápido. Então, em maio deve ter a inauguração, né? 320 metros, não é isso? Ou seja, eles resolveram fazer maior que aqui, assim. Eu não sei se tem algum tipo de problema, assim. (risos) Aí cada um tenta fazer um pouco maior. E eles, secretamente, pensam: “Então, vamos levar o Alan Wallace pra lá.” (risos) É assim. Aquilo, a motivação é mais ou menos, né? (risos) Então, depois, Curitiba...

[História da Expansão do CEBB – Viamão hoje]
Aí, eu tava realmente pensando assim: “Vou pra Alto Paraíso. Tô me organizando, potencializando a escola, aquilo dá pra ir, né? Eu acho que eu vou, né?” Mas aí tive uma recaída. (risos) Aí eu pensei: “Não, muito trabalho... Leva muito tempo, nem foi trabalho.” Trabalho nem é o ponto. Leva muito tempo até uma sanga se consolidar num local. Até que o local físico começa realmente a funcionar, assim. Aqui nós temos vários tutores morando, uma sanga grande. O problema que eu vi aqui é que nós não temos área de retiro. É muito ruído aqui. Aqui tá ficando um local urbano, né? Não só na redondeza como aqui dentro também, né? Então, tem muito movimento. Eu também percebi assim: Um local com as famílias é super bom, mas é um pouco perturbador pros praticantes que vêm. Homens e mulheres, né? Porque tem uma capilaridade rápida, assim... As pessoas chegam e tem sempre alguém simpático. (risos) Aí, eles mudam de ideia. (risos) Eles tão com ideias super profundas e aí aquilo – plum – abrem-se portais, assim ,floridos e perfumados, né? E a felicidade – plum – surge assim... (risos) Aquilo é invariável. Depois de perder uns 4 ou 5 praticantes assim, eu pensei... (risos) Bom, isso é um problemas que nós temos aqui. Mas teve um praticante que teve lucidez. Ele – antes de ter um problema maior – ele disse: “Lama, tô indo embora.” (risos) Ele  veio aqui pra fazer prática e fazer retiro, mas aí ele pensou: “Não vai dar certo. Aqui eu tô oscilando. Vou é embora.” (risos) Mas, sabe como é – muita felicidade ao redor, né? Aí ele foi embora. Aí eu pensei: “Nós vamos precisar fazer algumas coisas, assim...” (risos) Aí comecei a procurar uma área pra retiros. Aqui próximo. Inicialmente na zona da... Mais pro litoral. Porque tem uma região muito ampla selvagem. Litoral. Eu acho aquela região super interessante por quê? Porque ela é uma faixa estreita de areia. Não tem nada ali. Não tendo nada, não tem atividade econômica, entende? Ali eles plantam arroz e fazem silvicultura, né? Plantam árvores. Então não tem impacto, não tem densidade populacional, não tem futuro de densidade populacional ali. Aquilo não vai a lugar nenhum. Então, é um bom lugar, assim, né? E aí eu pensei que aquilo era interessante. Aí, tive olhando e vi que o preço da terra ali era menor que em Timbaúba. Menor do que no Nordeste. Bem menor. Aqui é ótimo. Além do mais, dava pra sair pedalando daqui e chegar lá. Pensei: Isso é uma boa coisa. Aí continuei olhando as terras...
(Interrupção na transmissão desde 45 até 48 minutos.)
Tem um nobreak aqui só pro sistema de som, né? (risos) Então vamos indo. (risos)

[História da Expansão do CEBB – Amazônia]
Outra pessoa fala: - A gente tem o CEBB que a gente tá começando lá da Amazônia, já faz um ano, com as bênçãos do Lama. É um lugar, terra búdica na Amazônia nossa, né? Pros paulistanos, tem muita água lá também, assim. (risos) É muito pequenininho, muito bonitinho – digamos assim, mas é imerso em plena floresta, no rio Negro. Dá 200 kilômetros de Manaus.  A gente tá com esse movimento lá. Já tem um pequeno temploca, que é um sincretismo entre oca e templo, porque já tinha uma oca antes. Porque o rio Negro era muito povoado antes da chegada dos Portugueses, então aquele local já era uma terra indígena. Pro nosso CEBB, então, é maravilhoso, porque já tem uma terra preta. Porque a terra preta é... Nela pode ser feita agricultura – e também é raro isso lá. E vai ser um local – como eu disse pro Lama – um lugar perfeito pra gente sentar e meditar, imerso na natureza. E é isso, a gente já tá há um ano, tá terminando. Já tem um pequeno alojamento. Já tem a casa do Lama, quase pronta. (risos) E um refeitório, mas super pequeno, super bonitinho.
Lama: - Que área tem lá?
Outra pessoa: - Então, a gente também tá da mesma maneira que nem tá em Alto Paraíso, a gente tá na frente do parque nacional de... A gente tá no meio, entre dois parques lindos, que é o Parque Nacional de Anavilhanas e o Parque Nacional do Jaú. Então, nosso quintal, assim, é enorme.
Lama: - Maravilhoso.
Outra pessoa: - Mas a nossa área mesmo, ela tem 20 hectares. Dentro de uma APA. É um lugar lindo. Acho que o Lama divulgou pra vocês o vídeo dos botos. Aquilo ali é na nossa frente, assim, ali. A gente pode fazer isso...
Lama: - Super lindo ver isso. A gente chega pelo rio Negro, a porta de entrada é a praia. Aí tem as bandeiras de oração, tu encosta o barco e entra. Super lindo aquilo. Maravilhoso.
Outra pessoa: - É isso mesmo. É um movimento lindo. Acho que pra conservar a biosfera, como o Lama disse, nada melhor do que sentar pra meditar imerso na natureza, porque a gente começa a conservar naturalmente.
 Lama: - Achei interessante também a amizade deles com os grupos nativos de lá, né? Interessante isso.
Outra pessoa: - É, a gente tem um bom contato, porque eu já tô na Amazônia agora há um ano, morando direto, mas eu já tô lá desde 2002. Então, eu tenho uma proximidade lá com algumas etnias e hoje eu comentei com o Lama a visão de mundo deles. Eles olham pra gente e eles não entendem a gente. “Porque vocês tâo fazendo tudo isso?” Não dá pra entender.
Lama: - E a gente também não entende. (risos)
Outra pessoa: - Exatamente. E muitos se isolam mesmo. Não querem contato nenhum com branco – o que gera mais preconceito do nosso lado. Mas é uma maneira muito fantástica de ver o mundo, né? E a gente tá tentando descobrir também um pouco a visão de mundo deles. Porque como eles não nos entendem, eles não compartilham também com todo mundo assim. É muito interessante. E é isso. Em breve a gente vai esperar o Lama ir lá pra inaugurar, dar todas as bençãos pra pulsar mesmo... E a gente começa a receber os praticantes que querem sentar na Amazônia e praticar, junto. Vão ser todos muito bem-vindos. Muita paz e amor. É isso.
Lama: - Que bom, obrigado.

[História da Expansão do CEBB – Próximos passos em Viamão]
Então tem isso, né? Agora, bem recentemente a gente também tá conversando numa área – de novo essa faixa aqui do litoral, né? Então, é provável que a gente vá também expandir o CEBB nessa direção pra gente ter – eu imaginei assim – uma área em que as famílias pudessem ir também, né? Nas férias da escola das famílias daqui, assim. E – eu vejo – as crianças, elas se beneficiam muito aqui. Então eu pensei: “Vou comprar uma pequena área ali” e tem essa nossa amiga que, enfim, é corretora que ficou nossa amiga, né? Aí ela nos levou na casa dela. Ali bem próximo da casa dela tem a lagoa do Bacupari, que é uma lagoa tépida. Tem uma boa extensão, assim. Um lugar selvagem. Aí dá pra contornar a lagoa, todo o local selvagem e chegar na faixa entre a lagoa e o mar, também aquilo tudo selvagem. Super bonito. Mesmo pra praticantes é interessante, assim. Tipo, pegar uma mochila e ir pras áreas selvagens, depois ir caminhando tipo andarilho... Tem uma vasta região assim, que dá pra andar. Sem encontrar gente. Então achei um lugar bem interessante. Pras crianças, é uma água rasa que vai afundando lentamente. No fim ela fica funda, mas eu vejo, assim, pras crianças, muito bom aquilo, né? Dá pra fazer excursão, fazer trilha até o mato, né?  Então a gente tá olhando, é uma área de 4 hectares e meio que tá ali, né? Então, a minha ideia nessa região também era ter como se fosse... como um CEBB, né? Do mesmo modo, assim. As pessoas podem construir suas casas, né? Esse seria um CEBB mais aberto ali, complementar ao nosso CEBB daqui, né? Eu acho também que seria interessante se tivesse um número de pessoas interessadas, né? A gente expandir a nossa área aqui também. Eu acho que era a última coisa que a gente ainda precisava fazer pra potencializar o caminho do meio. Porque nós tamos com uma área de... Nós começamos com 4 hectares e meio aqui. Depois nós ampliamos, nós fomos pra 10. Esses 10 foi assim: os 4 e meio não era 4 e meio, era 5. Quando a gente mediu, tinha 5 hectares. Então a gente passou de 4 e meio pra 5 , né? E aí a gente comprou uma área de 5, que é daquela cerca da escola pra lá, tem uma faixa de 5 hectares. A gente adquiriu aqui. E depois a gente comprou uma faixa de 2 hectares do vizinho aqui do lado que faleceu e a família vendeu pra nós. Essa faixa de 2 hectares é super bonita e tem um bosque que vai até o rio e atravessa o arroio - o riacho - lá embaixo, né? Atravessa, assim. Então tem um campo de cultura que é possível usar. Nesse momento, aquilo tá... O bosque tá vindo, assim, né? Denso, por toda a área. E eu pensei que a gente poderia fazer áreas de retiro lá pra baixo. Mas eu acho que o melhor, realmente, aqui... Porque tá tremendo muito essa região. Tem uma urbanização aqui em tudo ao redor, né? Melhor essa área de retiro mais longe. Então, esses 180 hectares eu tô imaginando fazer pra retiro. Depois eu vou explicar pra vocês os vários níveis e como é que vai funcionar isso. Mas tem esses 2 hectares e meio que fica... Curiosamente, tem uma estrada lá em Josafá (?),  Jatavana, tem uma estrada que corta a terra – deixa 2 hectares e meio de um lado e os 180 hectares de outro lado. Então, 180 é retiro e nesses 2 e meio a gente faz uma pequena aldeia. Pra apoiar a área de retiro. Então, algumas pessoas tinham esse sonho que a gente comprasse aqui do lado. É caro, né? Porque é praticamente terreno urbano, assim. 4 hectares que tem aqui do lado. A gente precisaria de 20 pessoas firmes, assim, pra... Que elas queiram se localizar, aí a gente consegue comprar. Então, isso vai depender... O CEBB nunca tem caixa. Pra isso, né? Não tem caixa. Mas a gente faz um projeto, se as pessoas acham aquilo interessante, a gente começa. O Macarine (?) sempre pensava isso. Eu tava indo com o freio de mão puxado, porque eu não queria isso. Mas por quê? Porque eu não queria aumentar muito o CEBB aqui. A gente não precisa fazer um grande CEBB num lugar. A gente pode expandir em outras regiões. Não precisa expandir sempre no mesmo lugar. Mas eu to achando que pode ser interessante. Aliás, tá subindo aqui agora... Pra paulista, especialmente. (risos) Aí eu imaginei que se a gente conseguisse comprar aqui do lado, a gente poderia fazer um grande centro de eventos. Pra 800 ou 1000 pessoas, assim. Faz uma construção mais barata, não faz um templo. Faz um centro de eventos. Que apoia a escola, apoia... A gente tem múltiplas atividades culturais. E quando vem eventos grandes a gente pode fazer com conforto ali dentro, direito, assim. Acho que isso pode ser importante pro CEBB. Acho que o CEBB hoje tem um nível de responsabilidade dentro do Brasil, também, assim. De potencializar os eventos, a vinda dos mestres, facilitar isso. Então, se a gente tem uma boa área pra recebê-los, isso é bom. Acho que é uma boa coisa assim.

[História da Expansão do CEBB – Escolas]
E, então, é o que tá fluindo assim em termos dos aspectos grosseiros, né? Prédios, áreas, planos a nível denso, né?
Também as escolas, né? A gente, nesse momento, tá construindo em Alto Paraíso. A gente tem sido beneficiado pela generosidade de pessoas especiais dentro da sanga, né? Então, a escola de Alto Paraíso vem porque teve uma pessoa da sanga que resolveu aportar recursos e a gente conseguiu construir, né? A gente construiu 6 salas e isso dá pra – com turno e contraturno – dá pra ir até o final do segundo grau. É uma boa coisa. Construído tudo em tijolo de adobe. Uma coisa direita assim, bonita, né?
E aqui [Viamão] também, a gente tá construindo. Vocês tão vendo, né? A gente construiu 3 salas, agora a gente construiu mais 3. Pelo mesmo raciocínio, com turno e contraturno, nós vamos até o final do segundo grau. Super bom.
Em Alto Paraíso, a escola tá na parte mais alta do terreno, assim, uma vista, assim, pra todo parque. Tem como se fosse um vale de grandes montanhas, assim. A gente vê. Super bonito. E ainda o Morro da Conceição do lado. Grande morro, né, do lado. Então, lá é muito bom, né? Pras crianças, pra todo mundo. A gente tem asfalto até a 300 metros da área do CEBB. Asfalto e ciclovia. Tem uma ciclovia de 36 quilômetros que vai de Alto Paraíso até São Jorge. Em São Jorge, um pouco adiante, tem lagos de água quente. É super bonito. Especial, assim.
Agora, aqui no Rio Grande do Sul tem esse vento do inverno, assim. Tem a névoa. Aqui é muito bom, aqui. Dói até os ossos. (risos) Pra praticante é uma coisa especial, né? Vejo o mar aqui também... O pessoal do Nordeste não entende o que que é o nosso mar. (risos) Eles tão acostumados com água quente, né? Agora, vocês entrem aqui no mar, aqui no Sul, né? Uma cor de chumbo. (risos) Aí a pessoa entrou, aquilo dá uma energia, o olho brilha, aquela luminosidade, direto. A pessoa quase atinge a iluminação. É maravilhoso. Aquelas águas lá, Tamandaré, Porto de Galinhas, um azul verde, né? Clarinho, assim... (risos) Não tem graça nenhuma, né? Quentinho. Calor eu já passo em casa (risos), quero é água assim, que parece que você vai morrer, que vai parar a respiração. (risos) Aquilo é que é. Então, ele vai achar aquilo maravilhoso.
Aí, quando ele vier agora pra Brasília, vamos fazer essa coisa acontecer, né? (risos) Aí tem que levar ele a Alto Paraíso, com certeza. Já pensou? Aí, eles vão dizer – Ah, mais um mestre. Tá cheio de mestre lá. (risos) Aí eles vão achar uma maravilha aquilo. Tinha que levar ele lá. Lá tem um campo de pouso na nossa área, assim. É incrível isso. Se ele for num avião pequeno ele desce... Ele desce na... Não me deixem mentir sozinho. (risos) Tem o campo de pouso ali do hotel que Fica do lado da nossa área. É uma pista de pouso do hotel. Tamos avançando. (risos) Acho que eu vou pra Alto Paraíso. Tô mudando de ideia agora. (risos) (Alguém fala algo - inaudível) É, essa é uma vantagem. É. Brasília é interessante. Mas eu acho que aqui é o mio do Mercosul todo, entende? (risos) (Alguém fala algo - inaudível) Você é suspeita pra dizer isso, né? Então, o orador é do Brasil? Então eu acho, assim, maravilhoso a gente poder construir os prédios, instalar a área, né? São um pouco apertados aqui. A escola tá um pouco apertada, o espaço físico, assim. Mas ela tá dentro de uma área que as crianças podem usufruir. É como se tudo fosse terreno da escola, né? As crianças andam por tudo. Então, isso é uma boa coisa, assim. E a gente tá nesse período ainda heroico, né? Tanto em Alto Paraíso quanto aqui, consolidando a equipe, né? Melhorando e definindo bem o funcionamento. Então, lá e, Alto Paraíso, aliás, a gente vai fazer a experiência esse ano de pedagogia de projetos. E aqui nós seguimos no método que a gente já vem andando, né? Tem uma ligação direta com o Darma. Então, a gente tá avançando. Esses são os processos, né? Quem quiser participar de algum modo dessa ideia aqui do lado fale com a Stela também. Se a gente tiver esses nomes firmes, é uma coisa que pode acontecer. Também a área do Bacupari, da lagoa do Bacupari, aqui na praia, né? Vocês falem com a Stela. A área do Jatavana lá na montanha também. Falem com a Stela. (risos) A Stela, quando chegou aqui ela era... Tá cada vez mais magrinha, sumindo, assim, fazer o quê? E quem quiser na área de... Canelinha não tem mais espaço, né? Tem do lado. Deem o nome pro Rossano. Tem uma área de 30 hectares do lado, né? (Alguém fala algo - inaudível) É. Lá é maravilhoso. A natureza super linda lá. Mas lá não tem mais espaço né? Áreas do lado, né? Tu conseguiste falar lá com o pessoal do hospital aqui? (Alguém fala algo - inaudível) É. Uau, isso é bom. Porque tem uma área do lado que era de uma pessoa de fora do país, né? E a pessoa adoeceu, aí teve uma despesa muita alta pro hospital e perdeu a área pro hospital. Mas o hospital não tem vocação pra se manter ali, né? Então, nós tamos na área. Talvez eles tenham interesse de trocar conosco de algum modo, assim. (Alguém fala algo - inaudível) É, isso. Tem a área da frente. É. É a fonte da água. Interessante.

[História da Expansão do CEBB – a sanga e o círculo]
Vocês veem – aquilo vai andando, assim, né? Eu acho interessante – já dá pra ver – ainda num tempo curto, né? – a sanga é - como eu tava falando ontem – o círculo, né? O círculo não envelhece. As pessoas entram e saem do círculo, mas o círculo mesmo ele tá existindo.  Então, o CEBB ele funciona assim, né? Ele não tem idade. Mas tudo que acontece em volta tá afetado pela impermanência, né? Então as pessoas mudam os seus interesses, suas coisas, aí o CEBB pode sempre se expandir assim. Naturalmente, ele é sempre um vizinho em expansão, né? Interessante. Aí, se a área lá do Recôncavo puder expandir é uma boa coisa. (Alguém fala algo - inaudível) Muito bom.

[História da Expansão do CEBB – Próximos passos: retiros longos fechados]
Então, eu queria falar um pouco pra vocês também dessa nossa experiência dos retiros longos, né? Como é que essa coisa foi avançando, né? Então, eu acho que a gente tá chegando a uma formulação circular. Eu gosto desse processo circular, assim, sabe? Eu vou explicar o que significa essa formulação circular. É o fato de que a pessoa tá no retiro mas ela rotacional um pouco de modalidade dentro do retiro. Então a experiência que a gente foi tendo lá é que, por exemplo, a gente começou com as pessoas no retiro fechado o mais isolado possível, né? Mas elas tão em grupo. Então, esse processo, ele exige que tenha alguém fora poiando eles. Esse processo ele é um pouquinho complexo, porque quem tá do lado de fora às vezes oscila, né? Então, a gente teve uma troca das pessoas que tão do lado de fora apoiando. E então um outro aspecto que surgiu é que - como eles tão em retiro em grupo – às vezes, eles aspiram tar em períodos mais fechados. Também surgiu a necessidade de alguns estudarem durante o retiro. É como se eles... De repente, surgem temas que eles sentem que tem que aprofundar pra desobstruir o próprio andar do retiro. Então, foi surgindo esse tipo de demanda. Então eu pensei assim – seria bom a gente ter uma área coletiva – que eles tão no retiro fechado. Mas, seria bom ter cabanas isoladas – que eles podem sair da área fechada e entrar numa modalidade fechada fechada por 3 meses ou 6 meses. Uma coisa assim. 2 meses. Então, aquilo potencializa a atividade deles. Estão super bem. Estão focados. Mas aí o fato de que – mesmo dentro do retiro – eles se levantam em certos horários e vão pra cozinha e um se move ou fala com o outro. Aquilo quebra um pouco. Então eles sentem a necessidade de estarem isolados isolados. Naturalmente, o fato de que eles voltam e se encontram nesse grupo de retiro – isso também equilibra. Porque às vezes as pessoas podem entrar num aspecto particular, ficar presos em alguma coisa, e sempre tem um amigo pra dar uma puxadinha, assim, né? “Você comeu?” “Você foi no banheiro?” “Você tá bem?” E aí esse grupo ele também, ele garante uma sanidade, assim. Melhora, né? Então isso é uma coisa boa, assim. Às vezes a pessoa também não tá bem de saúde ou ela tem alguma coisa e o grupo ajuda né? Então, por vezes, surgem dúvidas relacionadas ao próprio ensinamento. Então tem um ou outro que conversa com um ou outro sobre isso. Então me pareceu interessante esse processo, assim. A gente usar os 2 processos. A gente ter o grupo em retiro, numa sala e ter as salas isoladas. Aí o grupo em retiro cozinha. As salas isoladas não cozinham. Então a comida sai do grupo em retiro e é colocada num lugar. Quem tá isolado vai até aquele lugar, num outro momento, e pega a comida. Então, não tem contato visual, não tem contato humano propriamente. Naturalmente, a gente pode deixar recado, mas fica um retiro fechado fechado. Então, essa modalidade, ela é interessante. Eu pedi que no fechado fechado as pessoas não levassem nem os textos da sadana, porque elas tão fazendo todo dia – elas tem aquilo memorizado. Então elas vão pro retiro – elas ficam sem nada, né? Naturalmente sem celular, sem foto, sem internet, sem livros, sem anotações. Elas tão elas com o céu, com o ambiente, assim. Elas vão ter que ler nas aparências das coisas. Então isso é uma boa forma de fazer retiro por um tempo. Mas, por outro lado, como vocês tem visto, né? A gente tem ouvido também sobre isso e também a nossa experiência. O que acontece é que, às vezes, num retiro muito isolado, a pessoa pega um aspecto... É como se ela entra num sonho e aquilo não se desfaz. E , às vezes, aqueles sonhos são favoráveis e , às vezes, não são favoráveis. Então, a pessoa começa a passar mal. Então é super importante que ela tenha a possibilidade de voltar periodicamente ao grupo e se encontrar e aquilo vai se equilibrando de novo. Então tem essa modalidade – o fechado em grupo e o fechado fechado, individual. Então tô imaginando fazer isso também aqui no Jatavana, né?

[História da Expansão do CEBB – Próximos passos: retiros semiabertos]
Aí tem o retiro semiaberto. E talvez ele seja o coração de tudo. O coração de tudo não é propriamente o retiro fechado, mas eu acredito que é o retiro semiaberto, sabe? No retiro semiaberto a pessoa tá em retiro. Por exemplo, dentro da área do Jatavana – é um outro espaço físico. Ela tá em retiro. Só que ali ela tá meditando mas ela tá estudando. E ela tá estudando, ela tem programas de estudo com as outras pessoas que tão em retiro semiaberto. Eles tão focados. Ele não tão tirando fotografia e botando no facebook, não tão namorando... Aliás, namoro – proibido. Então, eles tão dentro desse formato semiaberto. Mas semiaberto por quê? Por exemplo, dali os tutores podem fazer contato com seus tutorados em diferentes regiões, podem fazer contatos que tenham sentido em relação aos estudos, né? Podem manter algum nível de correspondência com o exterior, mas no tema do que eles tão fazendo. Então, eles podem operar em rede dentro do Brasil e fora. Mas eles... O foco 100 porcento é a atividade de estudo e meditação.
Então, esse semiaberto, ele também tem duas modalidade, né? Uma mais fechada e uma mais aberta. Aí tem o aberto do semiaberto. O aberto do semiaberto é assim – é necessário alguém pra cuidar daquilo. Então, quem tá no aberto do semiaberto estuda, medita, mantém o foco – tá em retiro - mas faz... Conserta a luz, faz a coisa funcionar quando dá algum problema. Cuida da manutenção, do funcionamento das coisas. O aspecto de hardware. Faz os contatos, mantém a contabilidade operando, recebe as contribuições, sabe como fazer aquilo funcionar, assim. É necessário ter alguém que faça isso. E essa pessoa que tá nesse nível de retiro, mais na parte aberta desse retiro, a pessoa também pode sair pra fazer compras. A pessoa sai e volta. Ela não sai pra ir ao cinema. Ela sai pra fazer compras, fazer esse funcionamento.
Aí tem 4 modalidades, né? Tem o semiaberto com duas e o fechado com duas. Aí tem uma modalidade aberta, que não é retiro. Mas ela pode conviver, pode entra na sala do semiaberto. Mas esse aberto é assim – a pessoa tá ali pra cuidar de tudo. Ela cuida das fronteiras, ela fala com os outros, ela interage com o mundo externo. Em qualquer nível que precise – ela contrata pedreiros, ela contrata manutenção, ela cuida da rede elétrica, ela tá fazendo esse funcionamento. Tendo essa supervisão. É necessário. Então, nesse momento lá no Jatavana nós temos uma área pro aberto. Então, nós precisamos construir aos outras áreas – pro semiaberto e pro fechado. Então nós vamos começar com o fechado. O semiaberto vem depois.

[História da Expansão do CEBB – Próximos passos: retiros semiabertos – centros de formação de tutores e facilitadores]
Mas eu considero que o semiaberto é super importante. Eu tô pensando no semiaberto como o local onde os tutores e facilitadores vem pra fazer formação. Porque eles encontram um grupo que tá só estudando e meditando, estudando e meditando, estudando e meditando. E aí eles passam ali por dentro e se beneficiam. Esses que tão no semiaberto – eu imagino que os tutores também passam por períodos ali – eles estudam, meditam, estudam, meditam, clarificam aspectos dos ensinamentos, depois eles passam pelos vários CEBBs e levam aquilo, né? Assim, então a gente mantém um centro de aprofundamento. Onde a gente faz essas visitas periódicas, né? Trabalho em rede. Nós tamos muito perto disso. Isso, na verdade, tá pulsando espaço, né? A gente vai ver se esse fato de que a gente tem um espaço físico pra isso potencializa de fato. Porque esse funcionamento ele tá indo um pouco assim, mas se a gente colocar num espaço físico, acho que vai ser uma coisa boa. A gente tá ali desse modo. Então, dali também os tutores podem cuidar dos facilitadores, cuidar dos seus tutorados, né? Eles podem também viajar – eles tem um funcionamento econômico – pagam as suas contas também – que são baixíssimas, as contas, né? Porque esse funcionamento de retiro é uma coisa de baixo impacto econômico. E aí a pessoa acelera a sua prática, a sua realização e o contato com os outros. Dali, do semiaberto, a pessoa também parte prum fechado, né? Periodicamente ela passa por um fechado. Também a ideia é que a gente rotacionasse isso. A pessoa faz um pouco de fechado, faz um pouco de fechado fechado, faz um pouco de semiaberto e também faz um pouco de manutenção – vai pro aberto e faz compras, faz coisas. Eu acho importante esse encontro, assim, a pessoa tá meditando, tá super isolada e de repente ela volta, ela encontra o mundo. Ela vê como as coisas tão desajeitadas, né? Como as pessoas precisam de ajuda. Ela percebe que ela não tem como ajudar. Considero muito importante a gente ter a compaixão e a compreensão de que a gente não tem como ajudar. Aí, quando a gente volta pra estudar, aquilo tá mais claro. A motivação fica mais nítida, assim.

[História da Expansão do CEBB – Próximos passos : retiros semiabertos – centros de documentação]
E também no semiaberto eu tô imaginando a gente fazer um centro de documentação. Ou seja, comprar todos os textos, todos os livros que a gente puder. E nós vamos guardando aquilo. Guardando de uma forma digna, arrumada, direita, catalogada. Por quê? Porque os textos que hoje estão disponíveis pode ser que amanhã não tejam. Eu já vi a dificuldade de conseguir o Salistamba Sutra, né? Que é a Bia conseguiu, né? Mas eu entrei na amazona e aquilo custava 900 dólares, usado. São textos que tão ficando raros, né? Então, é natural que textos do Darma, eles sejam publicados por uma tiragem pequena. Como o Vítor tá fazendo agora, né Vítor? (editora Lúcida Letra) Tiragens pequenas. Por quê? Porque não são todas as pessoas da própria sanga que vão adquirir esses livros. Depois que elas comprarem, comprou. A gente não pode imaginar que no ano seguinte vai ter mais 500, depois mais 500, depois mais 500... Pode ser que sim e pode ser que não. Então, isso não é um fenômeno brasileiro, isso é um fenômeno amplo. Pra vocês terem uma ideia, esse texto que é de Trungpa Rinpoche, que é o “Além do materialismo espiritual” é um texto que tava esgotado há muitos anos. Eu acho que tu vai publicar, não é isso? Sim. Mas tava esgotado há um longo tempo. Então, como é que um texto de Trungpa super lido como o “Além do materialismo espiritual” tá esgotado? Então, vocês veem como essas coisas elas podem ficar problemáticas. Eu acho que é super importante – os livros são baratos. É muito fácil a gente ter um lugar consolidado, associado a retiros, onde nós temos uma vasta biblioteca, assim, um centro de documentação. Isso é super importante.

[História da Expansão do CEBB – Próximos passos: estupas em CEBBs rurais]
E também eu tô aspirando que a gente consiga construir estupas nesses vários CEBBs rurais. Construir estupas bem feitas, bem arrumadas, com todos os processos tradicionais de como construir uma estupa, né? Não sei qual é que vai ser a primeira mas eu visualizo aqui no Jatavana, imediatamente. Num vale, assim. Uma estupa grande, já irradiando praquele canyon, assim. Isso é super importante. Esses lugares eles ficam magnetizados, né? Eles já são magnéticos. Eles ficam magnetizados pelas bênçãos da estupa. Acho que a gente deveria ter isso. Mas nós tamos indo, né? Vai ter a estupa da Amazônia, né? (risos) Quase isso. Aí esses lugares eles vão fluir as bênçãos, né? Eles são como chacras. Vão fluindo as bênçãos. É super bom. Acho que nós tamos no tempo de fazer isso, né? Acho que a gente não deveria ter feito antes. Eu já vi também estupas serem construídas e as pessoas não conseguirem cuidar delas. Aquilo vira um problema. Do mesmo modo salas de meditação ou templos construídos que não tem a força da sanga. Aquilo tinha um... Uma força financeira construiu. Aí depois tem um problema o redor. Ou seja, a gente tá num tempo de consolidação, aí a estupa é bem-vinda. Essas coisas são bem-vindas assim. Então, nós vamos avançando.

[História da Expansão do CEBB – Consolidação da sanga e estudo das línguas]
E no que diz respeito à formação da sanga, né? Então, essa consolidação também. Eu acredito que esses centros de retiro, eles vão nos ajudar a avançar mais em consolidação. Eu tenho a aspiração que alguns avancem também nos estudos das línguas, né? Do Tibetano e tudo. Que a gente consiga não só ir traduzindo do Inglês, mas que a gente consiga especialmente meditar, meditar em retiro, também, avançar nisso mais. Começar a clarificar certas expressões, assim, a gente poder – nas traduções – acessar as línguas originais e clarificar isso, né? Agora, bem recentemente, nós távamos olhando os 6 selos... Então, às vezes, a gente localiza isso. A própria tradução em Inglês, ela talvez tenha uma imprecisão. Então tava olhando ali, por exemplo, a grande bem aventurança... “Vamos selar a grande bem aventurança com a ausência de pensamentos.” “Ausência de pensamentos” – aquilo é uma coisa limitada. Aquilo não é ausência de pensamentos. Aí eu pensei – vamos clarificar o termo em Tibetano pra isso. A gente precisa clarificar aquilo. Qual é o termo Tibetano – a gente precisa do texto. O Gi conseguiu, falou com o tradutor, o tradutor mandou o texto, né? Foi uma boa conexão pra nós. Agora a gente tem uma boa conexão com o tradutor do Tibetano pro Inglês, né? Como – acho que é o Erick Pewan (?), né? Como ele é um bom tradutor, né? A gente vê – tanto faz traduzir do Tibetano pro Inglês ou traduzir do Tibetano pro Português. Porque se a gente clarifica o sentido daquilo a gente encontra a palavra depois em Português. A questão toda é como clarificar o significado da expressão, né? Então, ele trouxe uma clarificação daquilo. Ele escolheu non-thought, não-pensamento. Eu acho que não é uma boa escolha. Mas tudo bem, ele clarificou o significado, a gente... Eu acho que era bom botar entre parênteses a expressão em Tibetano, botar um pé de página ou comentário, né? Por favor, um microfone aqui pra Bia.
(Bia) – Com a tradução que a gente usa em Português: refúgio. Porque o refúgio cabe bem pro Inglês porque eles não tem uma expressão (refuge). Mas o kab (?)  é kabdro (?) em tibetano. Jo (?)é “vou para” ou “tomo”, o que a gente pode tomar. Okiab (?) quer dizer proteção, né? Mas protege do quê? Pro indivíduo não cair nos reinos inferiores. Então quer dizer – ele ampara – o refúgio. Quando você se ampara no Buda, ele protege você de não cair nos reinos inferiores. Tanto é que quando a gente toma o refúgio, se diz que, nas vidas futuras, a pessoa que tomou refúgio não cai mais nos reinos inferiores. Mas, assim, se cai é vapt vupt. (risos) Eu acho assim – o Português tem essa palavra tão bonita – amparo – me amparo no Buda, me amparo na Darma, me amparo na sanga. Eu acho que, como o Lama disse, agora, como o budismo praticamente é novo no Brasil, então é tempo ainda de fazer essas correções, assim, sabendo a raiz da palavra.
(Lama) – Interessante. Aí, vocês tão vendo um exemplo disso. Super importante começar a estudar e a aprofundar os vários significados diretamente, assim. Interessante. Eu acho que a Bia veio num bom tempo pra cá, né? A gente não sabe bem o que vai acontecer, né? Mas a gente fica de olho na Bia pra ver o que que a gente consegue fazer. Aí eu tô descrevendo essa coisa do centro de estudos aqui, né? Mas eu fico pensando em ti, assim. Que periodicamente tu possa vir nos ajudar. Então a gente tá indo. Aí tem uma praticante agora que resolveu dar um salto, estudar isso. Vamos ver o que vai acontecer. Se vai mesmo ou se não vai, né? Mas isso é super importante. Porque vai potencializando essa clarificação desse significado.
Eu acho bonito, sabe? Na sanga a gente poder apoiar os vários movimentos. As pessoas querem tar em retiro fechado fechado – tem lugar. Quer levar as crianças pra melhorar a saúde, pra correr, pra caminhar, pra acampar – tem lugar. Tem lugar pra escola, tem...

[História da Expansão do CEBB – Configuração atual]
Aqui, por exemplo, isso não tava planejado, né? Foi uma iniciativa das próprias mulheres, que vieram morar aqui, né? Mas surgiu essa habilidade. Já nasceram cinco crianças aqui na área. Não é em hospital, nasceram aqui dentro. Eu acho isso maravilhoso. Esse movimento, por exemplo, das mulheres em círculo, das mulheres e das famílias se ajudando, das crianças de um um modo e de outro, né? Super maravilhoso. Super bonito. São coisas que a gente não pensou – agora vamos organizar isso. Não, isso surgiu, assim.
Uma das coisas que a gente pensou várias vezes e não conseguiu é manter uma horta que pudesse atender a cozinha, né? Eu acho isso um pouco vergonhoso, não devia tar falando, assim. Nós tamos com esse problema. Agora, essa área aqui próxima, né? Em direção ao litoral é uma área que permite cultivo extenso. Pra vocês terem uma ideia, por exemplo, daqui da faixa até depois do arroio, embaixo do riacho, nós atravessamos o riacho e continua no CEBB, aí tem mais uma faixa plana que era onde tinha área de cultivo. Originalmente, antes da gente chegar. Aqui vai até a divisa ali à direita e até as figueiras ali, a escola. Então, essa faixa tem 4 hectares e meio. Então é isso que nós tamos pensando em adquirir aqui nessa região de Vacupari, né? E ali permite cultivo.
Então, a gente tem amigos do lado que tem as máquinas e a gente pode fazer agricultura. Uma agricultura que eventualmente possa atender aqui. Naturalmente, a possibilidade não é suficiente, né? É necessário que tenha pessoas que tenha essa aspiração, que tenha esse foco, que consiga fazer isso, assim. Mas é uma possibilidade. Então, eu penso que esse tema, essa resiliência, né? Ela passa pelo alimento. Com certeza. E pela capacidade de nós mantermos a nossa própria saúde, então, um tipo de vida que mantenha a saúde. Isso é crucial. Então a gente tem feito esses estudos de Pedagogia, de saúde, de meio-ambiente, a gente tem estudado isso. E progressivamente a gente vai conseguindo estabelecer. São as aldeias, né? Aldeias do CEBB.

[História da Expansão do CEBB – Descentralização]
A minha ideia é que cada uma dessas aldeias, ela tenha tudo. Mesmo esses centros de retiro e estudo, eles podem ter. A gente não precisa fazer monopólio – fazer uma coisa numa região e em outra não. Também eu acredito que esse processo que nós tamos usando, que é um processo descentralizado, né? Os vários CEBBs tem denominações próprias e CGC próprio, estatuto próprio, autonomia financeira, eu acho uma grande vantagem. Porque se a impermanência pega um, os outros se salvam. A gente não pode ser atingido e todos são atingidos em bloco, assim. Não, sob o ponto de vista formal nós temos autonomia, assim. Além do mais, nós temos a capacidade de tomar decisões regionalmente. Sem que uma região tenha que ser entendida por outra região pra então permitir que alguma coisa aconteça. Eu acho super importante preservar essa autonomia. Isso vai desenvolvendo uma capacidade de gestão em cada lugar. Não fica um único local que tem capacidade de gestão e os outros ficam assim. Não. É importante desenvolver a capacidade de gestão, responsabilidade, contato com o entorno em cada lugar, né? Então eu acho que nós tamos indo bem. Eu fico feliz, assim. Por enquanto a gente não encontrou nenhum obstáculo maior nessa configuração. Aí nós tamos todos aqui conversando porque num nível sutil não tem separação. Mas no nível grosseiro a gente mantém isso. Então, esse aspecto, por exemplo, do estudo e do aprofundamento e das áreas de retiro qualquer área conseguindo implantar isso, ótimo. Tá perfeito assim. O CEBB – Caminho do Meio, por ser mais antigo, tem mais gente, tem mais capacidade de fazer isso funcionar logo, assim.

[História da Expansão do CEBB – Facilidade dos Satélites]
Vocês observem esse processo, né? Por exemplo, quando Alto Paraíso se instala, né? Como Curitiba também. Vai depender da instalação da comunidade no local, como vai ser. Agora, a área como Jatavana não precisa. Por que? Porque nós já tamos aqui. Aquilo surge como um satélite de Viamão. É Muito mais fácil. Como Bacupari também, surge como um satélite... Nós olhamos tudo por aqui, a gente faz isso funcionar. Não tem problema nenhum. Nas outras áreas precisa esperar que a comunidade apareça, que aquilo se amplie. A comunidade aparece mas eles não tem casa, não tem como se mudar... Aí precisa instalar aquilo, aí tem que puxar a água, distribuir a água, tratar o esgoto, melhorar a escola, melhorar as rotas, leva tempo. No plano sutil tá configurado, mas no plano grosseiro leva tempo.


[História da Expansão do CEBB – Gestão]
Então a gente tá avançando rápido em Alto Paraíso, já tem várias casas construídas. Lá nós tamos usando uma modalidade que tá acelerando, que é... Eu pedi pra um dos praticantes pra construir várias casas pequenas pra poder alugar. Por que? Porque aí ele aluga e as pessoas já conseguem se estabelecer na área. Aí eles começam a construir as suas próprias casas. Caso contrário, a pessoa tá numa outra cidade. Como é que ela vai manter a sua obra funcionando? Não pode se mudar. Então, agora ela já pode se mudar pra casas pequenas daonde já potencializam. E ainda assim nós tamos correndo contra o tempo. Porque a primeira que vai ficar pronta vai ser a do Fernando e da Eliane e eles já tão lá em Alto Paraíso. Pra manter a escola. Então, eles tão numa casa emprestada dentro da cidade pra poder... Vocês veem como é que é, né? Praquilo poder fluir é necessário esse mecanismo todo de ajuste, assim.
E muita demanda a nível de gestão, como vocês podem imaginar, né? Fazer as coisas encaixarem umas nas outras, assim, no espaço, no tempo e nos recursos. Então, essas atividades de gestão, se elas forem operacionalizadas do modo convencional, as pessoas cansam e desistem. Então é muito importante entender as atividades de gestão como prática do Darma, como pratica de compaixão. Se a pessoa não entender isso ela não aguenta. E é necessário que aquilo também... A pessoa logo se defronta com o fato de que ela tem impulsos sobre o que deveria ser feito ou sobre se as pessoas tão achando que aquilo deveria ser assim. Super importante ter as mandalas onde a gente escuta uns aos outros. E fazendo o melhor, assim. A gente se desapega do aspecto dos impulsos pessoais e vai operando. Então, isso é prática espiritual direta. Aí quando nós tamos olhando gestão, vocês não pensem que isso é diferente do processo de purificação do próprio carma, porque não tem lugar onde o carma aflore mais facilmente que na gestão. Aflora, fica vermelho, roxo e explode. (risos) É maravilhoso isso. Aí a pessoa quando explode entra em retiro, meditação, vai tudo girando assim... (risos) Super importante. Então, gestão é assim. Você acha que tá iluminado? Ótimo, então gestão pra você. (risos) A pessoa em uma semana descobre que não tava iluminado. Aí a pessoa tá em gestão, entra em retiro: “Bá, fácil meditar! É só sentar. Que maravilha. Que grande compaixão do Lama que me botou em retiro. Me livrei daquilo. Aquilo é que é prática difícil. Meditar aqui no meio das onças não é nada.” (risos) “Não tem problema nenhum, assim. Bá. Agora, compaixão com aquelas pessoas, aquilo é que era...” (risos) aí nosso carma aparece. Por isso que essa rotação é super importante.
Rotação também entre os CEBBs né, pessoal? Não tá aguentando mais o frio, vai pro calor. Não tá aguentando mais o calor, vai pro frio. Nós vamos girando, assim. Tem umas coisas preocupantes, né? A gente vê. Aqui na escola, as crianças começaram a falar com sotaque nordestino. (risos) Eu achei aquilo mais ou menos, assim, porque (risos) essa rotação também tem limites, né? Aqui é território gaúcho, né? Aí começaram a fazer festa nordestina aqui na escola... Aquilo ficou mais ou menos, assim. Mas tudo bem né?
Mas esse aspecto grosseiro era o que eu queria falar pra vocês, né? Vocês tem alguma pergunta?


( Parei em 01:42 )

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Os três aspectos do CEBB (secreto, sutil e grosseiro)

A palestra do Lama foi O que estamos fazendo no CEBB #1 (2015). Segue a minha primeira experiência com transcrição, abaixo, para o Ação Nalanda, mandala de transcrição do CEBB. Se tiverem algo a corrigir, entrem em contato.

(Preces) Bom dia. A gente tá começando o nosso encontro de facilitadores e uma boa razão pra gente se alegrar, ficar feliz com esse encontro é ver a sanga de várias cidades, vários lugares. Ver como é que tá todo mundo. Bahia, Curitiba, ver como é que isso é possível. Então imaginei que nesse nosso encontro a gente ia... Pensei em falar um pouco do que nós estamos fazendo e depois a gente ouvir também diferentes tutores, facilitadores e coordenadores de sanga falando sobre o que tem feito especificamente. Esse ano a gente tem a visita da Bia. Espero que ela possa falar um pouquinho também. Contar um pouco da experiência dela. Eu considero a Bia uma pessoa super importante no budismo brasileiro. Ouvi falar da Bia há muito tempo. Naturalmente ela é jovem ainda, né? (Risos) O Bruno foi a Daramsara e encontrou a Bia em Daramsara. E volta e meia alguém foi lá e encontrou a Bia. E cada vez que a gente pensava em ir a Índia e eu indicava a Bia. Eu não conhecia a Bia, mas a Bia é embaixadora brasileira na Índia, para assuntos do Dalai Lama e outros. E agora houve esse movimento maravilhoso, que SSDL pediu que a Bia viesse para o Brasil pra trazer o benefício pra cá também, a experiência dela. É uma coisa maravilhosa, isso. A Marcinha também quando teve na Índia encontrou a Bia, ficaram amigas. A gente tinha esse movimento, essa alegria, essa relação e agora ela tá aqui conosco. Em maio deve começar essa atividade dentro do CEBB de Brasília, a gente tá tentando essa aproximação, esse diálogo. Ela vai oferecer uma atividade pra sanga lá. Então a gente tem essa visita ilustre que tá aqui conosco. Obrigado. Eu tava em Brasília, ela apareceu lá com um kata de presente pra mim. Que bonito. Fiquei tão feliz de ver isso. Um bom encontro. Então eu pensei em reapresentar. Porque as coisas estão sempre mudando um pouco, melhorando, expandindo, então eu tava pensando em apresentar de novo as ideias que tão andando, as coisas que tão funcionando, como que as coisas tão marchando. Eu vou falar de um aspecto mais geral, depois a própria sanga vai falando de outras coisas mais específicas. Então, vou usar esse mecanismo, usar essa estrutura de aspecto secreto, sutil e grosseiro. O aspecto secreto não posso falar, afinal é secreto. (Risos) Mas só pra nós e o pessoal que tá vendo no youtube. O aspecto secreto da realidade é o aspecto - eu diria assim - mais lúdico, o aspecto mais engraçado. Porque quando a gente olha pra realidade, a realidade parece sólida, fixa. Esse é o aspecto grosseiro e, eventualmente, o aspecto sutil também, porque as emoções, os karmas, as estruturas internas elas parece que limitam os movimentos todos, aquilo tá tudo definido, não tem solução. E o aspecto secreto é o aspecto mais interessante, que é pular por cima do que é fixo. Mas não é exatamente pular por cima do que é fixo, é usar a liberdade natural, que tá além da rigidez artificial como as coisas se constroem. Às vezes, a rigidez é tão estabelecida como ideologia que a gente precisa criar uma outra expressão, que a gente vai chamar de impermanência, pra ultrapassar a rigidez. Porque tudo que é rígido, também é impermanente. É impermanente por quê? Porque a liberdade natural é a realidade. Se eu não consigo ver a liberdade natural como liberdade, eu me encontro na impermanência também. Porque aquilo que é rígido, solidificado, arrumado pra não se mover se move. Porque a realidade mesmo é o espaço básico. Esse é o aspecto secreto. É interessante isso. Pra nós, o nosso movimento secreto vem no que? A gente pode fazer coisas que não foram feitas. Nós tamos dentro de uma sociedade que pode parecer tempos de degenerescência. Das três classes, a pior. Na pior classe, a pior. E na pior dessa pior classe, a pior. (Risos) A gente pode estar nua situação bem ruim. Eu não vou aqui lembrar dos paulistanos nem dos cariocas porque na verdade ontem eu ouvi uma notícia de que a principal reserva de água do Rio de Janeiro chegou no nível morto. Como é que eles chamam? Volume morto, né? De admirar, né? Minas Gerais também tá com uma seca intensa e aparentemente o período de chuvas vai terminar e agora vai começar o período de seca. Eu não queria começar falando sobre isso, mas enfim. A gente podia pensar - Isso é tempos de degenerescência. Isso é. Tem um desequilíbrio na relação dos seres todos. Começa a ser sentido no nível grosseiro. No sutil, já tá se manifestando há muito tempo. A gente faz de conta  que não vê no nível sutil, não mexe, aí no nível grosseiro se apresenta e nós vamos ter que ver o que nós vamos fazer. Mas, por exemplo, quando nós olhamos o aspecto grosseiro a gente pode pensar - bom, isso é sólido. Essas coisas são super densas. Aí não tem como o sujeito ultrapassar. Mas a brincadeira do aspecto secreto é ultrapassar o que é denso. Por exemplo, a gente podia pensar agora não é um tempo do Darma. Mas a gente também pode pensar: Agora é o tempo do Darma. Eu posso pensar como eu quiser, entende? Eu posso construir essas realidades como for. Se eu pensar "Agora não é o tempo do Darma", por quê? Porque as pessoas tão aflitas, tão nervosas, elas só pensam em economia, tão sem tempo, tão num mundo complexo, difícil, é muito difícil pagar as contas, fazer tudo andar. Bom, agora então não tem solução. mas aí, nesses tempo também - não é que isso seja sólido, não é que isso seja a única alternativa, não é que isso seja negativo - isso são características. Aí nós tamos usando o aspecto secreto. Tem uma coemergência - eu olho praquilo e vejo da forma como eu quiser olhar. Eu vou construir o olhar. E surge a própria visão da realidade, coemergente com o olhar que eu escolho. Só que isso não é brincadeira, não é pra sala de meditação. Isso é verdadeiro, direto, é a chave da coisa. Aí nós tamos dentro desse tempo e podemos pensar "Super difícil o Darma andar no mundo. Onde é que estão os monge? Não tem. A sanga é isso aí. Sanga maravilhosa, né? (Risos)" Em outros tempo a sanga quem era? Os grandes monges, votos completos... A gente pode pensar assim, né? Mas também a gente pode pensar "Nossa, sanga interessante, variada (Risos)" Aqui tem muitas qualidades. Só conseguir se manter vivo em tempos de degenerescência já é uma super qualidade. Além do mais, uma sanga super experiente. Muitas reencarnações onde os ensinamentos não deram certo com eles... (Risos) Agora eles tão com aquilo tudo na cabeça girando. Eu acho interessante, por exemplo, em tempos de degenerescência, tempos difíceis, como é que aparecem as pessoas que tem interesse, né? Isso é muito especial. Nos tempos onde o Darma está estabelecido em grandes mosteiros , tudo arrumado, é muito mais fácil. A pessoa até vai ser empurrada. Nem quer ir mas os outros vão empurrando. "Não, vai pra lá porque tá sobrando aqui em casa, vai pra lá estudar." Eu vou fazer alguma coisa útil né? É lá que o mestre te endireita. Mas pra nós é como se houvesse sempre um efeito contrário. O próprio prai fala pro filho "Você vai pagar suas contas como? Você não vai casar? Não vai trazer um neto pra mim?" Começa assim, né? Começa essa coisa meio complicada. "Você enlouqueceu? Você não vai mais namorar?" Começa essas ideias assim. Se eles soubessem como é que o Caminho do Meio anda... (Risos) Encerramos assim os comentários, senão... (Risos) Alegria, né? (Risos) Mas então a gente pode pensar "Não tem solução. Não há como." Sempre tem papais e mamães, avós e mesmo filhos preocupados. Então é como se houvesse uma força que vai filtrando nossa motivação. Então quem tá realmente seguindo no darma, fazendo a coisa andar é porque venceu esse filtro. Tem um processo de purificação da própria motivação que vem pela filtragem do ambiente. Eu acho isso favorável. Acho realmente isso favorável. Além do mais, a gente tá abençoado pelo fato de que Guru Rinpoche deu os ensinamentos pra esse tempo. Isso eu acho maravilhoso. Às vezes eu olho os tempos que seriam os tempos dourados dos ensinamentos e não sei se são muito vantajosos também sabe? Os tempos médios onde havia grandes mosteiros também, não sei se é uma grande coisa. Tá certo que grandes mestres surgiram disso mas o fato que tenha grandes mosteiros não quer dizer que tenha grandes alunos realmente focados em atingir a liberação. Porque os mosteiros - eu vi SSDL criticando isso - em Sunkapa - no final ele foi super duro com os monges. Dizendo "Agora, vocês tomem isso e entrem em retiro. Tratem de obter a realização desses ensinamentos. Se ficarem aí, tão perdendo tempo. Se ficarem simplesmente hospedados no mosteiro seguindo uma vida que não tem um foco verdadeiro de transcendência, tão perdendo tempo. É preferível que vocês voltem pras aldeias e voltem a ter uma vida leiga a ficar aqui dentro." Eu achei aquilo super duro. Mas essa é uma perspectiva importante. Como que a gente dentro de uma instituição, a gente pode ficar institucionalizado, estacionado, sabe? Houve um tempo em que era um pouco assim. Pra nós, é muito difícil ficar institucionalizado. Porque estamos no meio de um torvelinho da impermanência. E a melhor forma de compreender isso, esses ensinamentos, é justamente compreendendo a luminosidade das aparência, a inseparatividade, a coemergência. Nós somos obrigados a compreender isso rapidamente. Caso contrário, a gente não sobrevive. Então a gente não utiliza isso como obstáculo. A gente utiliza isso como um filtro poderoso que melhora a nossa motivação, nos faz andar de forma mais lúcida e rápida. Por exemplo, quem quiser se estabelecer, se institucionalizar até mesmo no formato budista, só vai ter problemas rápido, rapidamente. Porque nós não tamos numa sociedade budista. Se a gente se institucionalizar budista, virar budista, se mover desse modo, as pessoas imediatamente tem um sistema que vai nos localizar e nos neutralizar, como se houvesse uma defesa do próprio organismo criando anticorpos pra nós. Eles vão nos circundar e vão nos delimitar. Então nós somos exigidos imediatamente de estar inseridos, dialogando com o ambiente ao redor. E trazendo benefício de alguma forma pro ambiente ao redor, porque se a gente imaginar que nós vamos simplesmente pregar pra eles pra todo mundo virar budista nós tamos perdendo tempo. Nós vamos precisar ajudá-los no ambiente em que eles estiverem. Nós temos que ter um diálogo aberto com eles, no nível em que as pessoas tiverem operando. É uma exigência de uma capacidade nossa de ultrapassar a fixação em identidades. Nós não tamos buscando outra identidade, como a identidade budista. Nós tamos buscando lucidez pra poder se mover. Todos aqueles que virarem budistas fardados, estruturados, eles vão ter problemas, eles vão avançar com vagar ou vão desistir. É melhor imaginar que do budismo nós temos a mente do Buda, a sanga e o Darma. O Buda deu ensinamentos de forma aberta. Ele não pensou "Essa pessoa é budista ou não é budista?" Não tem nenhuma restrição pra oferecer ensinamentos pras pessoas de acordo com o tipo de crença ou seja lá o que for. Ele tá ali pra beneficiar os seres todos. Não apenas os seres humanos. Os seres todos, em todas as direções. Então eu acho super bonito, né? Em tempos de degenerescência, nós somos obrigados a isso. Nós somos obrigados a nos desinstitucionalizar. Voltar a essa essência. E também, a gente tem esse desafio que os tibetanos enfrentaram um pouco, mas menos. Eles enfrentaram o desafio de lidar com várias linhagens no Tibete, mas as linhagens estavam por regiões, estruturados junto com o poder temporal, nas estruturas de organização social. Mas havia uma independência entre essas regiões. Mas ainda assim surge no Tibete o movimento Rin Me, que é uma coisa super importante, ou seja, nós atravessamos as denominações das linhagens, atravessamos as estruturas das árvores da tradição dos ensinamentos e nós consideramos relevantes todos os ensinamentos budistas das várias origens. E nós consideramos que cada um deveria ser responsável por manter vivos os ensinamentos de todas as outras tradições, que também são budistas, mas não tão dentro da nossa árvore de transmissão. Por exemplo, se a gente quisesse dentro do CEBB manter vivos os ensinamentos do Zen. Pelos textos, pela prática, pela transmissão, pelo aspecto secreto, sutil e grosseiro. Exato. A gente tem um templo zen dentro, a gente pratica aquilo, preserva aquele ensinamento. Como por exemplo o Viazen aqui em Viamão, eles tem um templo tibetano com a imagem de Guru Rinpoche, eles fazem as práticas de chuva de bênçãos, eles mantém aquilo porque eles consideram que aquilo é relevante no budismo em geral. Isso é o movimento Rin Me. Super importante. Ter a capacidade de manter tantos ensinamentos vivos. Agora, no tempo em que nós tamos vivendo a coisa é mais complicada, aqui no ocidente especialmente. Porque existem muitas diferentes tradições religiosas. Nós tamos num tempo onde o desafio é realmente grande. Não temos apenas as tradições religiosas. Temos a filosofia, a psicologia e a ciência. Quem tá na filosofia, olha pro budismo: "Budismo nem filosofia é. Não tem nada aí dentro, é uma crença vazia. Religião é uma coisa que deveria ser eliminada. Olha as religiões , que agressão que tão causando umas às outras, pessoas se matando... Os filósofos é que resolvem, eles tem uma mente livre, pensam sobre as coisas..." Aí vem os psicólogos: "Psicologia é que é. Religião as pessoas repetem 50 mil vezes a mesma coisa... Acredita naquilo. Depois, passa um tempo e não acredita mais. Não resolve nada. Só cria artificialidades. Bota remendos sobre as coisas. Aprofundar, resolver e botar ordem nas coisas é psicologia. A religião não adianta. Se resolvesse, já tinha resolvido há muito tempo." Aí vocês vão encontrar a ciência: "Religião? Pensem! Eles ainda acreditam que não sei bem o quê... A religião não adianta pra nada. A gente tem que ir contra isso." Aí tem as várias tradições religiosas: "Aí só (aí tem o nome) resolve. Só um resolve. Só outro resolve. Naturalmente nenhum desses é o Buda. Só outro resolve. Fora disso, não há salvação." Se isso fosse uma outra cidade, ok, mas isso tudo convive na nossa cidade. Na nossa cidade tudo bem, mas isso é na nossa rua. Se fosse só na nossa rua a gente ainda dá um jeito, mas é dentro da família. Eu encontrei isso: o pai é evangélico, pastor. A filha é budista. A mãe tá no meio. Não sabe o que fazer? Situação super grave. Maravilhoso isso, uma coisa desafiadora. Tempo de degenerescência pra todas as tradições. É um tempo também em que todos os dogmas são estressados. Porque tem esse diálogo nisso tudo. A sanga- nós - nós não somos sanga de alguma coisa. Nós estamos sob a influência de todas essas ideias, de tudo isso o tempo todo girando dentro de nós. Então o Darma tem que dialogar com tudo isso. Dialogar não é assim: criar uma barreira e a gente obstaculiza aquilo. Não, a gente tem que fazer com o espírito de Nalanda. A gente ouve totalmente aquilo, digere de uma forma elevada, usa o que é útil, e ajuda a neutralizar os obstáculos daquilo que não é verdadeiro. Usa discernimento e clareza. Com a ciência, com todas as coisas né? A gente olha as outras tradições religiosas e a gente vê imediatamente a dificuldade deles. Sendo tradições reveladas, eles tão realmente no enrosco. Porque tudo que é revelado gera uma face. Essa face tá enrijecida, porque aquilo foi revelado não sei quando... E como é que aquilo vai mudar? Agora a gente vai dizer: "Não, Deus voltou e fez uma reformazinha..." Difícil. Ai tu pega os teólogos do passado, tu pode até mexer um pouco neles mas não pode mexer muito. Não vai poder mexer muito. Não tem como. As estruturas das próprias tradições religiosas reveladas tem um problema pros próprios praticantes, pros próprios teólogos, pros próprios especialistas dessas tradições. Eles tem dificuldade. É como o professor Alan Wallace tava falando desse mestre amigo dele do Theravada, né? Tomando como dogma várias coisas que o Buda falou. Olhando aquilo sob o aspecto grosseiro a gente não tem alternativa. Isso é o que acontece nas tradições reveladas. Elas tem esse problema. Então a gente vê: o Budismo, felizmente, não tem isso. Olhando na visão Mahayana, introduzindo a noção da vacuidade, Prajnaparamita etc. essas coisas todas elas... Ganham uma grande liberdade. Então a gente consegue ajudar a entender essas outras coisas. Além do mais o budismo tem essa contribuição, tem essa capacidade, por exemplo: o que é transmitido no budismo é a mente do Buda. É a lucidez. Todos os métodos são apenas métodos, são remédios de Chenrezig para beneficiar as pessoas onde elas tiverem. Todos os remédios são pra serem transcendidos. Como a gente vê no Prajnaparamita, na vacuidade não há sofrimento, as causas do sofrimento, liberação do sofrimento, caminho pra liberação do sofrimento. Não há ignorância, nem extinção da ignorância, nem os elos subsequentes da originação dependente até a morte. Nem extinção da morte. Então nós vamos perceber esse aspecto. A estrutura budista o que é? As 4 nobres verdades, nobre caminho de 8 passos e os 12 elos da originação dependente. Isso na vacuidade não há. Ou seja, isso são métodos. Aí vem a noção de paramita. Paramita é um barco - ele atravessa e é abandonado. A gente não carrega o barco terra adentro depois. Ganhou a visão, aí a visão permite que a gente gere outros barcos, outras possibilidades. Isso vem da lucidez. A lucidez é a mente do Buda. Isso é que é passado. Por isso é que o budismo muda. Nós somos obrigados a enfrentar essa realidade. Por exemplo, em tempos de degenerescência, de dificuldade, nós somos obrigados a encontrar isso. A gente pensa - o que é manter a exatidão dos ensinamentos do Buda? É copiar exatamente o que foi feito em gerações anteriores? E a gente vai descobrir que não é isso. Porque se tivesse sido copiado exatamente o que era feito nas gerações anteriores, nós távamos nos vestindo de laranja, cabeça raspada, pé descalço, como o Buda falou, falando em Páli e estudando em Sânscrito. E ponto final. Nós távamos assim. Como é que o Budismo ganhou a cor vermelha, ganhou a cor preta, ganhou a cor branca, e ganhou todas as línguas e começou a fazer coisas diferentes? Então todos eles são hereges? O que acontece é assim: o Budismo é Chenrezig. Quando chega nas diferentes culturas ele responde de acordo com as necessidades das pessoas. Isso é que é copiar exatamente o que os mestres do passado tem feito geração após geração. Se a gente for copiar a roupa exata, a formatação exata, estamos perdendo tempo. Eu ouvi agora faz um mês um mestre de outra tradição me disse: "Olha, a gente fez um grande encontro de toda a América, as pessoas se juntaram, o tema central foi como manter as cerimônias exatas como são feitas naquele outro país. Eu achei aquilo uma perda de tempo. Eu quando muito ainda faço prostração. Quando faço prostração acho que faço demais já." Ele tava com uma sensação de que tava perdendo tempo em manter esse foco exato. Mas pra maior parte das pessoas parece isso. Alguns anos atrás eu ouvi uma crítica assim já. Pra manter o altar exato, os monges agora usam tem usado um teodolito. Pra ver se a folhinha tá da altura da vela. Tudo super exato. Como vocês tem visto aqui né? (risos) Aí tem esse aspecto. É uma perfeição da forma que a gente busca. Eu não vou criticara motivação. Mas as vezes parece que a perfeição da forma é o modo exato de transmitir o Budismo e não é. SSDL por exemplo, ultimamente tem enfatizado a compreensão leiga. A Filosofia, a Psicologia, a importância de nós olharmos com um olhar que transcende o aspecto religioso, um olhar de bom senso. Isso é o Budismo respondendo às necessidades de onde nós estamos, direto. Estabelecendo uma base. O Dalai Lama percebeu a fragmentação do bom senso no uso das nossas atividades cotidianas. Então é super importante reestabelecer um bom senso. Desse bom senso nós vamos paulatinamente readquirindo os aspectos mais sutis e vamos avançando. Então, super importante a gente entender isso. Isso também não é uma crítica às outras tradições que vão usar outros métodos. Mas é uma compreensão de como a gente pode também assumir um nível de liberdade para focar no aspecto de lucidez e não tanto no aspecto externo da forma como aquilo é feito. E a gente focar no benefício real. Olhar desse modo. Isso tudo tá dentro do aspecto secreto. Nós temos uma liberdade em relação ao formato. Mas essa liberdade não é uma liberdade simplesmente, ela tá com a motivação de Chenrezig. Se a gente quiser resumir e também ter um referencial claro pra nós cada vez que a gente se perde um pouco a gente pode olhar essa imagem de Guru Rinpoche. Considero isso super importante. Naturalmente, esse é o primeiro ponto dos 21 itens, é o ponto fundador. Esse também é um aspecto assim, por exemplo: nenhum dos 21 itens se separa um do outro. Isso é como um rosário. Ele é circular também. É um rosário de contas de 21 contas. Quando estamos na última, estamos mais perto da primeira. Então, a primeira conta é a compreensão dessa imagem que vai gerar Bodichita. Se possível, né? Se não gerar, tudo bem, vai gerar alguma compreensão. Aí nós vamos indo. Mais adiante a gente passa de novo e vai ampliando a compreensão desse primeiro ponto. Mas esse primeiro ponto é super importante porque ele resumiria tudo que nós fazemos. Por exemplo, nós começamos com o lodo e a água, o lodo simbolizando as negatividades da mente e o sofrimento, a água, como se fossem as lágrimas, né? Um ponto crucial pra nós, sem o que não tem caminho é nós sermos capazes de, ao tomar contato com o sofrimento - que é a água - e ao tomar contato com o lodo - que é o conjunto de negatividades - a gente ter a capacidade de fazer brotar o lótus. E não fazer brotar mais sofrimento e mais negatividades. Esse o ponto básico. Se não conseguirmos fazer isso, estamos na roda da vida, a gente não tá no Darma. Ou seja, alguém nos bate, nós geramos mais sofrimento, mais lágrimas. A gente bate de novo, gera mais lágrimas, mais sofrimentos. É o processo comum. Ressentimento. A gente vai saindo de um lugar pro outro girando dentro do lago. Sem salvação. Fixado a uma crença na identidade, sem perceber o aspecto livre de que nós dispomos. Então, nós tamos girando. Essencialmente, todos os seres tão dentro do lago, girando. Dentro desse lago, espantosamente, surge o lótus, surge Guru Rinpoche. Ele não vai surgir porque a água e o lodo se juntam. Ele vai surgir porque a mente de Buda se manifesta. Eu acho interessante também nesse ponto lembrar da originação dependente, lembrar esse exemplo da semente de arroz que vira um broto. Então aqui tem a semente da iluminação. A semente da iluminação vai virar um lótus. Porque ela tá nutrida com a negatividade e irrigada pelo sofrimento. Não é porque ela tá nutrida por coisas boas e irrigada por águas puras. É porque tem o sofrimento e a negativade, por isso brota a flor de lótus. Ela faz essa extraordinária transformação. Que, aliás, as plantas fazem né? Nós podemos testar isso no lago onde nós vivemos, no mundo. Isso não é teoria, pessoal. A gente se defronta com adversidade, sofrimento, negatividades em todo lugar. Aí quando isso bate vocês parem um pouquinho, lembrando shamata das vidas passadas. Uma paradinha assim. Agora vou fazer surgir de um outro jeito. O aspecto secreto é parar. O aspecto secreto interrompe a responsividade. Naturalmente, nós vamos treinar shamata pra poder parar isso. Quando a gente treinar shamata no nível secreto nós tamos exercendo a liberdade natural diante das coisas que nos impulsionariam. Dentro da linhagem Nyingma tem essa palavra - responsividade - que é considerado um dos grandes obstáculos que nós vamos enfrentar. Você bate no sino, e o sino soa. Observe que o sino tá sempre em shamata. (risos) Mas aí bateu (Lama bate no sino), ele soa, condicionado. (risos) Tem que ter uma lucidez, não basta ficar parado. Como Chagdud Rinpoche já dizia, se só ficar parado resolvesse, os ursos e as marmotas e os bichos que hibernavam tavam liberados. Mas eles ficam como o sino, eles ficam fixados na qualidade dele, bateu eles reagem. Mas, ainda assim, qual é a prática de shamata? É shamata pura. Que significa, nas palavras de Gyatrul Rinpoche, que nós temos luminosidade, nós tamos parados, atentos, lembramos o que tá acontecendo, mas não nos perturbamos. Hoje de manhã eu ainda tava olhando de novo lá no ensinamento de Gyatrul Rinpoche e tá lá: shamata pura e shamata impura e a descrição de shamata pura e shamata impura. Tava olhando o texto em Inglês, né, traduzido pela Sangye Kandro, que é esposa do Gyatrul Rinpoche. Então, aí ele vai dizer shamata impura é quando nós paramos e nos ausentamos do entorno. Quando nós retornamos, é como se a gente tivesse ficado em como, num estado de ausência. A gente tava ausente. Isso é shamata impura. Qual é o grande mérito de shamata impura? Durante o período de shamata impura nós praticamos a liberdade frente aos impulsos da mente e dos impulsos ao redor. Nós ficamos imunes. É como se a gente tivesse dentro da água e do lodo mas a gente não vê nem a água nem o lodo. Agora, shamata pura, ele diz - "Aí, desse ponto, nós vamos adiante." Nós temos uma luminosidade presente. Nós tamos vivos, nós tamos atentos a tudo, completamente estáveis. Quando nós tamos completamente estáveis e conectados a tudo que acontece, nesse ponto, quando nós retornamos da prática, nós temos a lembrança de tudo o que aconteceu. Então, nós precisamos de shamata pura para poder gerar o lótus. Ou seja, a gente tem que estar dentro da água e do lodo, em contato com a água e com o lodo, sem se perturbar. Por isso, agora nós podemos então fazer surgir a compaixão. Nós vamos fazer uma outra coisa. mas a gente começa com a não-resposta condicionada cármica usual. Porque a gente ganha esse espaço, agora nós vamos poder fazer uma outra coisa. Além do mais, no aspecto sutil quando nós tamos em shamata, ninguém tá só operando a mente, ou dirigindo a mente. Nós tamos dirigindo a mente e a energia, pessoal. Então, é super importante perceber isso. Por exemplo, nós não estamos sentados dirigindo a mente e fazendo força pra mente alguma coisa... A mente é inseparável da energia. Totalmente inseparável. Se nós tamos parados, os olhos abertos, atentos, a gente só consegue fazer isso porque a energia tá presente. Aí, o início da flor de lótus vai se dar quando nós tamos em contato com as coisas, imunes à perturbação de água e lodo, mas permitindo contato com a água e o lodo, brota a semente de Bodichita. Se não brotar a semente de Bodichita, nosso caminho não vai acontecer. Não tem como. Por quê? O que significaria a semente de Bodichita começar a brotar? Ela é umedecida e nutrida pela água e pelo lodo. Ou seja, quando nós tamos ali parados, vendo o sofrimento e a negatividade, brota em nós a energia da compaixão. Se não brotar a energia da compaixão, não tem como fazer surgir o lótus. Não tem como. Aí nós seguimos praticando shamata até aparecer compaixão. Porque quem não manifestar compaixão e começar a se mover de forma compassiva, a energia cai rapidamente. Se a pessoa não conseguir fazer essa energia aparecer, a pessoa vai sentir que tá no lugar errado, vai começar a ouvir assim: "Porque você não pensa em você em vez de pensar nos outros?" E a pessoa faz prática e sente que a energia baixa, ela cansa. Ela diz: "Realmente, eu tô aqui ajudando os outros, ajudando os outros e minha vida só afunda." Aí também tem a noção de originação dependente. Originação dependente é a própria mente do Buda. Isso é dito pelo Buda, no Salistamba Sutra, que a Bia mandou pra nós, tá lá. O Buda diz: "Originação dependente é a minha mente." Nagarjuna vai dizer o mesmo. É a mente do Buda.  Vocês vão ver isso também: diferentes mestres vão dizer a mesma coisa. Aí vocês veja como é que é isso. Vocês tão parados - shamata pura - equilibrados olhando em volta. A semente da iluminação está em nós. Primeiro capítulo do "Ornamento da preciosa liberação" de Gampopa. Todos nós temos natureza de Buda. Todos nós temos a semente da iluminação. Aí nós tamos assim. Aí a semente da iluminação começa a umedecer e ser nutrida. Ela é a mente que então olha compassivamente e olhando compassivamente ela tem a capacidade de ver aqueles fatores e compor coisas. Aí começa o Darma a botar. Começam a brotar os meios hábeis para trazer benefícios. Aí o talo do lótus começa a crescer, ele sai da água e começa a surgir. Enquanto surge o talo, a compaixão se estruturando pra agir no mundo, ela surge de um meio mágico, que é a própria mente do Buda, começamos a construir coisas. Essas construções são a origem da flor de lótus que, com suas infinitas pétalas, vai manifestar os infinitos ensinamentos do próprio Buda. Aí Guru Rinpoche senta sobre a flor de lótus. Significa o quê? Ele não vai se movimentar de outro modo a não ser pela flor de lótus. Não é assim: das oito ao meio-dia e das duas às seis ele é Guru Rinpoche, depois ele tira a roupa, põe chinelo e bermuda e ele é outra coisa. Não é assim, não é a profissão dele. Ele senta sobre a flor de lótus, ou seja, ele é aquilo, entende? Agora, super importante entender essa aura. Ou seja, ele irradia energia. Ele não drena energia do entorno. Não é assim: ele chega lá, se aquilo for tudo favorável a energia dele se enche e se for tudo desfavorável ele desanima. "Não dá, esse tempo aí não serve. As pessoas aí são horríveis. Não entendem. Não tem boa vontade." Eu lembro que quando eu tava na universidade, às vezes, eu dava coisas assim, mais amplas, né, pros meus alunos. E sempre tinha um pra perguntar assim: "Professor, isso cai na prova?" (risos) Nós vivemos em tempos de degenerescência, né? (risos) Já távamos quase iluminados na sala de aula e o cara "Isso vai cair na prova?" Bá. Aí não dá, né? Aí pergunto pra Guru Rinpoche: "Guru Rinpoche, isso aí é importante ou esqueço?" Bá. (risos) Mas o ponto importante é assim: a energia dele (Guru Rinpoche) não vem da relação, ela se expande pelo mundo. Isso é Bodichita, entende? Então Bodichita não é apenas a posição da mente nem a disposição de trazer benefício aos seres. Ela é especialmente o fato de nós termos encontrado a sustentação de energia de forma autônoma e milagrosa. Ela vem direto da natureza livre da mente, da semente da iluminação. Se nós tivermos isso, tamos andando. Isso é Bodichita, né? É o primeiro dos 21 itens. Aí vocês vão ver: super importante também entender que isso se dá sob um céu azul. Pra não reificar isso como a única forma de manifestação. O céu azul é o espaço livre da mente. Dentro do espaço livre da mente surge essa manifestação, mas podem surgir muitas diferentes manifestações. Então a gente não reifica, não congela. Todas as manifestações do lótus são manifestações particulares de acordo com o sofrimento dos seres. Existe uma variedade infinita de mundos. Cada um desses mundos tem um Buda numa flor de lótus, mas as flor de lótus pode ter uma espécia diferente. Então os Budas dizem, o próprio Buda Sakyamuni tem muitos sutras onde ele vai dizer isso, especificamente. Como no Surangama sutra, ele vai falar, o Lankavantara sutra, especificamente, ele fala. Ele tá sentado num lugar e ele vê, de onde ele está, infinitos mundos. E dentro de cada mundo, um Buda. E ele vê arcos de luz convergindo do centro da testa dele a todos esses Budas e reconvergindo, e convergindo entre os Budas entre si. Em todos esses inumeráveis Budas e terras de Budas, em todas as direções. Infinitos mundos. Literalmente, infinitos mundos. Chagdud Rinpoche, certa vez, ele tava me dizendo que em um milímetro cúbico tem uma quantidade incontável de seres, de mundos. Só que isso não é pictórico. Isso é real. No sentido que a gente queira dar pra realidade. Porque os mundos crescem e convergem. Então, pra dentro e pra fora tem um número infinito de mundos. Isso olhando assim parece uma coisa meio mística, né? Mas é preferível que a gente tomar isso como se não fosse místico. A gente vai avançando e, com o tempo, o pessoal olha e consegue ver, atribuir significado claro, tangível pra essa visão. Então, nós tamos olhando esse processo. Onde é que nós tamos dentro disso aqui? Quando a gente divide os blocos, por exemplo, o bloco zero e menos um, ou seja, desgraça, é água e lodo. Quem tá dentro de água e lodo (bloco zero e bloco menos um) não consegue antecipar qualquer coisa. Ele pode tá o Buda sentado no lótus assim, a pessoa não vê. Que é a mesma coisa que um adolescente dentro de casa que não vê a compaixão da mãe cuidando daquilo tudo. Não vê como é que a geladeira se enche, como é que a casa é limpa, como é que as roupas limpas aparecem no armário, como é que as contas são pagas no supermercado e no condomínio. A pessoa não entende nada. A pessoa tá olhando o seu iPad, o seu computador, baixando aquilo, uma coisa no ouvido, outra aqui... Assim. A pessoa tá focada no seu mundo estreito. Que, aliás, não é muito feliz. A pessoa tá com uma cara mais ou menos. Eles tão dentro de um lago cheio de insatisfatoriedades. Isso é o samsara. mas a pessoa não consegue ver. isso é bloco zero, bloco menos um. Agora, pode ser que pra aquele adolescente, em certo momento, ele entenda a mãe. Aí, pode ser que brote Bodichita, que brote compaixão. Ele consegue ver que ele tava apoiado desde sempre. Isso é extraordinário. Nós também, socialmente, tamos apoiados por Bodichita. Nós temos estradas, temos linhas de eletricidade, temos suprimento de alimentos, temos suprimento de água... Onde ainda tem, né? Temos tratamento de esgotos, temos fábrica disso, fábrica daquilo, temos um monte de coisas funcionando. A gente nasce dentro disso. Isso é como se fosse também um acolhimento amoroso. As pessoas são células dentro disso. Elas podem nem perceber que elas tão sendo acolhidas, mas aquilo tá tudo arrumado. Eu vi também o Ailton Grená que teve aqui, uma liderança indígena importante, e fiquei impressionado com essa afirmação dele (depois eu ouvi de outras lideranças indígenas também), dizendo que a floresta amazônica é como se fosse uma agrofloresta dos nativos. Eu achei aquilo super interessante, sabe? E aquilo faz sentido. Porque eles tão ali há 15 mil anos. Então, eles já queimaram e replantaram a floresta várias vezes. Só que eles vão selecionando as espécies de acordo com as necessidades deles. Então, ali na floresta tem o alimento e tem o remédio, na proporção que eles precisam. Por exemplo, árvores medicinais, de acordo com a proporção elas estão mais densas ou menos densas. E eles sabem onde encontrar. Eles vivem, geração após geração, conhecendo as árvores, conhecendo os caminhos, os animais, tudo... Eles vivem ali dentro. Aquilo ali é o organismo deles. Eles não são separados: nós, a nossa aldeia e o mundo ao redor. Aquilo tudo é como se fosse a própria família deles. Eles necessitam daquelas árvores, daqueles cursos de rios, eles tão integrados àquilo... Quando eles tem um problema eles vão lá e resolvem de um certo jeito. Aí a gente entende melhor a carta do cacique Seatlle ao presidente americano, né? Eles queriam comprar um pedaço de terra. Não existe um pedaço de terra, pessoal, não existe árvore pra vender, não existe animal pra vender, não existe isso. Eu vivo aqui. Também da pra entender esse texto de O Papalagui, esse nativo, conversando com um alemão, amigo dele, dizendo "Por que você trabalha tanto?" e ele dizia "Eu trabalho porque eu to organizando a vida pros meus filhos seguirem depois." E o nativo fica pensando - será que isso faz sentido? E depois de muito pensar ele diz: "Mas nós não temos essa preocupação. A gente vive dentro da floresta. Não faz sentido nenhum eu pensar que tenho que deixar coisas pros filhos poderem viver. Eles já tão com tudo ali, não falta nada." Aí a gente dá uma paradinha assim... E é mesmo. Eles tão num ambiente integrado. Aquilo tá muito mais próximo dos tempos áureos do que qualquer outra estrutura de civilização. Eles tão integrados ao ambiente ao ponto que eles não precisam fazer esse esforço todo de modificar o ambiente o tempo todo pra poder, enfim, viver, preservar os filhos que vem depois. A própria terra vai cuidar dos filhos, desde que a gente não apareça lá pra cortar a floresta e vender como madeira, né? Que é o que a gente tá fazendo. Então, é interessante, assim, o olho ocidental e esses olhares integrados. Aí tem uma noção de terra pura também, né, quando a gente olha integrado com os animais, com os seres. Olhando desse modo... Mas nós tamos nesse tempo esquisito, tempo difícil. Mas aqui eu continuo falando do surgimento do lótus, que é o aspecto sutil, ou seja, como que nós vamos manifestar aquilo que vai transformar nossa vida. Que é a capacidade da energia se mover de outro modo. Quando a energia se move através do lodo e da agua, gerando mais lodo e mais agua, isso é a energia dos 6 reinos da roda da vida. Aí nós vamos transmigrando do reino dos deuses pros infernos, dos infernos pros animais, dos animais pros humanos. Vamos girando, sem solução. Quando eu sou batido, eu fico com raiva. Aí tem outro que diz: “Quando eu sou batido, eu seduzo a pessoa que me bateu.” - são os deuses. Aí tem outro que diz: “Quando eu sou batido, eu tenho que provar que eu sou mais forte do que ele” – semideuses. Aí nós vamos trocando a nossa chave de grande inteligência. Vamos girando pelos reinos do samsara sem nenhuma solução. A gente pega uma coisa, parece que é solução mas não é. Entre as coisas mais comoventes, é justamente a gente fazer bondade condicionada, esperando retorno, e acabar parando no reino dos infernos porque a gente foi frustrado. Eu acho das coisas mais comoventes, mais doloridas pra mim de ver as pessoas com boa vontade mas autocentradas. Trazendo benefícios, sem perceber que elas tão construindo os infernos através de boas ações. Eu considero comovente porque a pessoa quer fazer uma boa ação, mas ela tá cobrando alguma coisa. Às vezes são as mães nisso, né? Elas vão fazendo boas coisas pros filhos mas elas tem uma cobrança que vai aparecer na conta. Se te uma cobrança, tem um sofrimento. Sofrimento inevitável. Mas o sofrimento vem de que? Da bondade, pessoal. Ou seja, a roda da vida é tão perigosa que mesmo que você seja bondoso não garante nada, entende? A pessoa tem que ser compassiva, amorosa, as 4 qualidade incomensuráveis. A bondade ordinária é alguma coisa que é boa mas se a gente não tiver cuidado de purificá-la rapidamente, ela pode se transformar num problema. Nós vamos acumular aquilo. A gente precisa liberar o fato de que nós tamos cobrando os seres que foram beneficiados. Essa cobrança vai produzir sofrimento em nós. Imediatamente. Ela produz no ato, mas a gente não percebe. Mas depois ela vai eclodir ainda. Isso é um problema. Agora vocês olhem Bodichita como é, esse aspecto sutil. Quando a gente vê até mesmo as pessoas serem ingratas em relação a bondade ordinária, em nós brota compaixão. Não brota raiva, não brota mais negatividade. A gente se comove. A gente reforça o voto de compaixão. Quando vocês veem se reforçar isso, esse é o impulso que sustenta o lótus. Esse impulso, essa ignição, é o aspecto de energia de shamata. Que é o segundo passo do caminho. Ai nós vamos sentar em shamata com o coração aquecido por essa energia compassiva do lótus. Se a gente não tiver isso, nós podemos desgastar. Então, já vi também gente praticando meditação em silêncio, no final de um tempo, a pessoa tá meio irritada. É como se ela tivesse tirando energia da medula dos ossos pra se manter parado. Não tá mais aguentando. Falta um minuto, mas um minuto é infinito. “Não tô mais aguentando. Me dói tudo. Não sei, tô cada vez mais longe da iuminação.” A pessoa tem a sensação que tá se desgastando. Aí, do lado tem um outro assim, iluminado. (risos) “Não entendo isso, o outro é fake. Não sei como é possível isso... Não vou chegar nunca nisso.” E aí como pe que vence isso? Se a pessoa não tiver inspirada por essa energia, é difícil. E essa energia vem de que? Da própria relação com o mundo. Nós começamos a treinar na própria relação com o mundo. Direto. Aí, essa energia vai nos sustentar. Aspecto sutil. Onde que nós vamos posicionar a mente é super importante. As instruções todas de onde posicionar mente, corpo etc. Mas pra poder posicionar mente, corpo etc. nós temos que ter uma energia que movimenta isso. De onde é que ela vem? Bodichita. Bodichita não é uma conclusão a que eu chego sobre as coisas. Tá certo que tem o aspecto discursivo, né? O aspecto separativo de Bodichita. Mas o aspecto central de Bodichita é não-cognitivo. É a energia. Eu posso ter todas as explicações, mas se a energia não aparecer não é Bodichita, pessoal. Bdichita tem que manifestar energia. Se não manifestou energia não é Bodichita. Esse aspecto de incluir energia é um aspecto Vajrayana. Vamos simplificar isso. O aspecto de energia tá na linguagem Vajrayana direto. Quando você recebe, por exemplo, a transmissão de uma deidade, aquilo é chamado lung da deidade, pessoal. Isso que eu tê explicando pra vocês é o lung de Guru Rinpoche. É o lung de Bodichita. Se vocês não tiverem o lung de Bodichita vocês só vão ter a explicação de Bodichita: não vai adiantar. Tem que ter o lung. Se não tem o lung, não tem o brilho. É mais ou menos assim: vocês olham pra uma menina e dizem “Ah, essa é uma boa menina.” A mamãe dizendo: “Meu filho, ela é uma boa menina.” E a menina tá lá, com um laço vermelho de fita. (risos) Uma cara cheia de espinha, o nariz torto pra um lado, mas “ela é uma boa menina...” A gente dá uma olhada assim... Não aparece o lung, vocês entendem? (risos) É de uma boa família, ela sabe bordar, sabe fazer bolo, sabe cozinhar, é ótima, arruma a casa, ela é amorosa, atenta, é uma pessoa maravilhosa. Nossa, muito bom, eu tenho um amigo que ia ficar feliz com ela, mas eu... Pelo contrário, né? Ou tá a mamãe: “Minha filha, aquele rapaz é ótimo... Tá certo que ele usa óculos, não sabe surfar, manca duma perna, mas ele é ótimo...” (risos) Aí a filha dá uma olhada... Aquilo não vai funcionar. “Vai lá, conversa com ele.” Aquilo não tá rolando né? Aí a mãe diz: “Vou dar a transmissão do lung dele.” Aí, ó, ele é lindo, que maravilha! Essa é a diferença, pessoal. Tem lung ou não tem, entende? Tem outras tradições que vão usar outras expressões pra isso, né? Axé, por exemplo. (risos) Brilha ou não brilha. Isso não é uma conclusão que a gente chega sobre as coisas. “Meu filho, olha, sopa de nabo é super bom para a saúde, você coma isso... Isso é purificador. Melhor do que sopa de nabo é nabo cru, ralado. Melhor do que nabo cru ralado é você ralar bem aquilo, aperte e tome o sumo do nabo cru. Isso é super bom. Tome aqui, meu filho.” (risos) Eu acho sumo de nabo cru super purificador. Eu tomo e ainda sorrio. (risos) Por um breve momento, depois... Pedro Devai acha aquilo ótimo. Quando a gente tá achando que a vida tá horrível, tome um sumo de nabo pra ver que sempre pode piorar. (risos) Aquilo serve pra qualquer coisa. Você perdeu o namorado? Sumo de nabo. É interessante isso. Aí tem o lung. Hoje tem o lung do suco de nabo. Lung é uma coisa mágica, como vocês vem, né? Aquilo não precisa ter uma lógica. É a diferença das coisas. As coisas não são sérias, racionais. Precisa ter lung. Senão não funciona. Por exemplo, Bodichita, tem que ter lung senão não funciona. Pra sentar em meditação, melhor que tenha lung. Senão nós vamos nos desgastar. Mas, tudo bem, né? Nós tamos usando o método circular: não tem lung, senta e pratica. Igual. Ah, sim, a gente vai ter essa sensação. Tem que ficar de olho aberto? Aí aparece o lung e vocês – tum (olhos arregalados). O lung se vai e vocês (olhos quase fechando). É assim pessoal. Como é que o olho arde quando não tem lung e não arde quando tem lung? Expliquem isso. O lung tá a li, pronto. Não tá ali? (sono) Não é o fígado. Se vocês comerem muita gordura, como diaria Pedro Devai, aí o olho (fecha). Mas se vier o lung... (abre bem os olhos) Vocês vão perceber facilmente. Uma ideia dispersiva, tipo “Vou ao cinema.” “Qual o filme?” É um lung perturbador, né? Mas é um lung. Aí ele apareceu. “Oh, A noviça rebelde.” Eu não tenho ido muito ao cinema ultimamente. (risos) Átila, rei dos hunos. Dispersa por que? Porque tem lung, pessoal. Não é o conteúdo, é o lung da dispersão. Conecta numa chave cármica, pluft, brotou o lung. Por isso que nos rouba, o lung nos rouba. Não é a mente que nos rouba. Não é assim: “Agora, cheguei a conclusão de que eu deveria comer pastelão com massa podre, cheia de gordura.” Não é uma conclusão, é o lung. Você pode ter a conclusão oposta: “Isso é horrível. Isso é farinha sem água, impregnada de gordura, por isso que ela fica crocante. Com excesso de sal. Isso é uma bomba para o fígado e para o rim. Tudo bem? Além do mais, vai se depositar na sua barriga, como um anel de gordura na sua cintura. Tudo bem? Não, isso eu não quero, mas eu vou comer. É muito bom.” (risos) É isso, é o lung, não é a conclusão sobre aquilo. Aí o Pedro Devai tá lá, num canto da mente (risos)... O Buda tá lá: “Não, não...” (risos) Pouquinho, nada de exagero, só metade... O lung é que nos leva, pessoal. Mesmo que vocês tenham capacidade de shamata, vocês param diante da coisa e se a coisa tem lung nos leva. É super importante isso. Por isso que nós vamos fazer shamata, Bodichita e, pra não perder tempo, por isso que nós vamos focar direto nos 5 lungs em shamata. Se a gente mantém os lungs em shamata impura, nós praticamos o corpo fechado, né? Que é uma expressão de outra tradição mas... (risos) Aí nós tamos sentados, nós ficamos imunes a lodo e água. A gente procura não ver lodo e água. Mas depois nós vamos praticar corpo translúcido, porque nós vamos ficar com a energia equilibrada e vamos deixar as coisas aparecerem. Só que a gente não vai oscilar. Por exemplo, mesmo que eu veja com a mente, eu não movo com a energia. Aí a coisa tá sem poder. A gente tira o poder da coisa. Por que? Porque o poder da coisa não tá na coisa, tá na energia que ela move. Se eu mantiver a energia, isso é a base da estabilidade. Pra poder praticar shamata de fato, nós precisamos equilibrar a energia. Não é onde posicionar a mente... Eu posiciono a mente, mas se eu não acompanhar com energia, eu tenho dificuldade. Por exemplo, no texto “A iluminação da sabedoria primordial”, o texto raiz, os versos raiz comentados por Dudjom Rinpoche que depois vão ser comentados por Gyatrul Rinpoche, ele começa assim: “Dirija a lança de sua atenção e energia combinados ao hung do seu coração.” É isso, pessoal. Atenção e energia combinados. Não é atenção. Não é lança de atenção ao coração. Vamos simplificar isso. Tá no verso raiz comentado por Dudjom Rinpoche que é a base dos nossos ensinamentos. Não tamos inventando essa coisa de energia. É assim. Isso é a prática Vajrayana. Movimenta a energia imediatamente. A essência das deidades é a energia, o lung. Se não transmitir o lung da deidade não vai funcionar nada. É a mesma coisa que vocês praticarem compaixão sem energia de compaixão. Sem energia compassiva. Vocês vão praticar compaixão no aspecto externo, no aspecto grosseiro... E não vai funcionar. Ou no aspecto mental... Não vai funcionar. Compaixão se não movimentar a energia não tem compaixão. E nenhuma das coisas, se não movimentar energia, não tem. Nem torta de chocolate, se não movimentar energia não funciona. Vocês olham pra torta: “Ah, entendi. Chocolate, isso, aquilo...” Mas se não movimentar o lung não tem torta de chocolate. Lung é a essência da vida. Se vocês olharem com cuidado, vocês vão perceber que não é uma coisa humana. Os outros seres, como mantém uma racionalidade, uma coerência no funcionamento deles, ainda que eles não tenham uma operação racional como a nossa? Porque eles se movem por lung. A natureza inteira se move por lung. Os seres todos se movem por lung. É o principio da ação. Ki, chi, chen. Não movimentou isso, nós tamos perdendo o cerne do movimento. Então, quando a gente pratica meditação, se a gente pratica meditação com a mente e a gente não observar esse fator, é como se tivesse um fator super importante no nosso funcionamento que ele é deixado de se observar. Então a gente se move de modo aleatório. Às vezes tem energia, às vezes não tem. Então a gente vai dizer: “Hoje a meditação foi boa.” “Agora faz umas semanas que a minha meditação não tá boa, não sei por que. Tô meio desanimado.” “Agora a meditação ficou boa de novo, não sei por que. Hoje tive uma meditação maravilhosa.” Se vocês introduzirem a linguagem do lung, vocês vão ver que é isso. Ai vocês treinam os cinco elementos. Isso não é uma invenção, pessoal. Não é uma invenção. Isso tá lá. Super descrito, os 5 elementos. Por exemplo, a morte é a dissolução dos 5 elementos. Um a um. Tá descrito na medicina tibetana. A vida é ao contrário. Aí vocês fazem essa experiência. Vocês sentam e experimentam, por exemplo, dissolver o elemento terra, dissolver o elemento água, dissolver o elemento fogo, dissolver o elemento ar, vocês tão dormindo... No mínimo isso. Vocês tão com insônia? Dissolvam um por um dos elementos. Às vezes faço isso com as crianças. Agora não tenho mais feito porque eles dormem. Mas eu lembro de dizer pra Talita assim, a Talita tá lá: “papai, eu não tô com sono.” “Não, nem precisa dormir. Não se preocupa. Só deita assim bem quietinha. Relaxa bem. Solta tudo. O corpo tá pesado.” É a dissolução do elemento terra. Corpo pesado. Aí, elemento água: “Agora não te mexe. Solta bem, assim.” “Agora vê que tem um friozinho, vou puxar uma colchinha. Nesse frio, vou puxar uma colchinha pra te aquecer.” “Agora respira bem devagar, assim, fundo.” Aí o olho faz assim (fecha) e pronto, dormiu aquele ser que não queria dormir. Aí vocês vão ver: aí vocês tão com insônia. O que é a insônia? O elemento éter faz assim: Pfu! “Não paguei a conta!” Ou assim: Pfu! “Não busquei a Talita na escola! Onde será que ela tá?” (risos) Aí vocês observem: não respirem fundo. Impossível. Porque o lung do elemento éter aciona o do elemento ar imediatamente. Aí vocês: “O elemento seguinte não se ative.” Aí brota o calor. Aí vocês: “O elemento seguinte não se ative.” Aí brota a água, né? E aí, com o calor, vocês movem, tiram a coberta. Aí vocês: “Agora eu não me movo.” Aí vocês sentam. Fazer o quê, né? Aí você ativou os 5 lungs. A gente voltou da cova, da noite. Pode ser que seja apenas um pesadelo. Pode voltar, né? “Eu paguei a conta.” Então, aí aparece isso, assim, né? A gente vê perfeitamente: vocês tão sentados. Se vocês conseguirem neutralizar o elemento éter, o que vai acontecer, vocês focam uma coisa estreita. Vocês perdem o aspecto amplo do espaço. A energia surge focando um objeto estreito. Aí se foi o elemento éter. O elemento éter ficou tão amplo quanto a ideia estreita que a gente tá. E a energia ficou toda ali. Se a gente conseguir parar aquilo e voltar pro elemento éter, vocês dissolveram a perturbação. Ela não passa pro elemento seguinte, que é o elemento ar e vocês não vão seguir por diante. Agora, se focou naquilo e a gente se perdeu brota o elemento ar associado àquela perturbação. Depois o elemento fogo, o elemento água e o elemento terra. Eu tô com certezas em relação àquilo, eu vou me movimentar em relação àquilo. Quando aquilo termina de se arrumar, aí a energia cai de novo, eu não preciso mais... Por exemplo, dentro de casa a gente resolveu um problemão que tinha, foi lá, limpou, arrumou, recolheu os cacos, botou as crianças pra dormir, arrumou tudo. Tava cheio de energia. Agora, tu senta no sofá assim, e o corpo... (cai) Por que aquela fonte de energia não tem mais. Aí se vocês fizerem assim: agora o elemento éter, agora elemento ar, elemento fogo, elemento água, elemento terra... Aí vocês tão de novo... (levanta) É isso, pessoal. Melhor usar isso. Se vocês não usarem a capacidade de dirigir energia, que é o aspecto mais sutil da mente (é onde dirigir a energia, não é o que pensar), se vocês pararem em silêncio dentro do espaço amplo da mente, a mente ressurge movendo energia. Não é cognitivamente. A essência da mente é movimentar energia. Vocês observem isso. O aspecto cognitivo é derivado, posterior. E não é muito importante. Se vocês quiserem vender alguma coisa pra alguém não convençam o outro, iludam o outro. Ilusão é produzir energia. Se quiserem namorar não convençam a moça, iludam a moça. Esse é o processo. Mas cuidado, porque pode ser que ela teja fazendo jogo duplo. Vocês achando que tão iludindo, ela fingindo que tá sendo iludida e pá. Perigosíssimo esse jogo. Então, melhor, como diria Newsburr (?) na Física Quântica, ele diz: melhor entender as variáveis do problema. Se a gente não entender todas as variáveis que tão atuando, se eu deixo uma variável oscilando, eu tenho resultados ambíguos. Porque à vezes obtenho um tipo de resultado e às vezes obtenho outro tipo. Porque eu tô controlando um conjunto de variáveis mas eu não tô controlando todas as variáveis. Porque eu não sei. Não reconheço as outras variáveis. As outras variáveis tão oscilando, o resultado é ambíguo. Às vezes dá um resultado, às vezes dá outro. O aspecto central pra nossa prática, o que falta de um modo geral, é a consciência sobre o aspecto de energia. Porque, enfim, o que move a mente é a energia. Melhor entender isso. Aí tem os textos sobre isso. Tem vários textos sobre isso de grandes mestres. Melhor entender. Não sei porque esses textos não são mais divulgados. Talvez porque esse é um aspecto mais sutil, assim, mais difícil de ver. Mas se a gente consegue ver de saída é melhor. O aspecto mente é super complexo. Isso pra mim não é uma coisa teórica. Porque eu pratiquei muito tempo pela mente também. E eu vi o resultado ambíguo. Aquilo oscilava. E como eu tinha uma facilidade de movimentar energia, ainda que eu não tivesse uma visão discursiva de que aquilo seria energia, aquilo funcionava bem pra mim. Mas eu via outras pessoas com dificuldade nisso. Aí quando vê a descrição disso, aí tu entende isso. Aí vocês olhem: Chili Norbon (?) vai tomar isso como cerne da visão dele. Ele vai explicar isso e vai nomear e vai falar de forma poética sobre o funcionamento das cinco energias. Ele vai dizer: podem ser 5 bruxas ou 5 deusas. Mas se elas são 5 bruxas ou 5 deusas é a mesma coisa. Porque elas são energias. Elas são 5 bruxas se eu não tiver lucidez e for arrastado pelas aparências. Mas elas são 5 deusas se eu tiver lucidez e acoplar a energia com a sabedoria. Aí eu vou movimentar aquilo numa direção adequada. Seja como for são sempre 5 Budas. Em aspecto feminino. Esses 5 Budas, melhor entendê-los, porque se eles se apresentam como bruxas, eu me defronto com o sofrimento, eu tenho oportunidade de ter clareza frente àquilo. Maravilhoso. É um Buda ensinando através de um aspecto hostil, duro. Se eu tiver bons resultados, é o Buda ensinando através de coisas favoráveis. Mas é sempre o Buda, porque nunca é outra coisa que não as 5 energias que tem uma origem primordial. Melhor entender isso. No Surangama Sutra ele também vai falar dos 5 aspectos. Ele vai falar de 4 elementos, enfim, a energia, né. O quinto elemento ele vai chamar de consciência, ele na vai chamar de energia. Então, melhor entender isso. Se a gente entender logo, melhor ainda. Aí nós tamos praticando shamata, só que essa shamata já tá lá em cima. Porque ela inclui a energia, que é um aspecto Vajrayana e ela inclui o fato de que a energia – se a gente puder entender – é a base das deidades. Se não tiver a energia na deidade no Vajrayana não tem possibilidade de estado de completitude. Porque a energia se manifestando em nós junto com a compreensão e visão da deidade é a própria deidade, nós manifestamos a deidade. Se a gente não tiver isso, nós não temos como manifestar. Se eu tirar fora a linguagem da deidade, a energia, a mente e a ação, compreensão, elas são a base da lucidez. Então a lucidez correspondende a Prajnaparamita, por exemplo, ela não é uma coisa mental. Ela inclui o movimento da energia e a visão de mundo. Se eu não tiver a visão de mundo correspondente, que brota também da energia, não tenho a mandala, não tenho estado de completitude, não tenho aquilo. É a mesma coisa que a pessoa namorar e não ter amor pelo outro. Agora, vocês imaginem... Não sei se alguém já namorou, né? Vamos supor. Aí encontrou alguém. Apareceu o lung. As mães e os pais ficam deliciados quando acontece isso com os filhos, né? A gente olha assim: “Que bonitinho.” Aí o que ele quer? Quer trabalhar, quer comprar alguma coisa, ... “Esse menino que só pensava em videogame, que maravilha! Agora ele quer fazer prestações, quer comprar apartamento, precisa de um carro.” O mundo muda, pessoal. Porque o lung muda. Quando a pessoa olha em volta, aí aparece a mandala da desgraça... (risos) Quer dizer, a mandala da família. Geração após geração aquilo se repete igualzinho. Mas é bonito de ver o mundo mudando né? “O meu menino agora... Eu não pensei que pudesse acontecer uma coisa dessas... O que uma namorada faz...” Esse é o princípio da mandala, pessoal. Surge em nós Chenrezig. Aí, quando nós olhamos em volta, o mundo mudou. Porque o mundo é inseparável. Nós construímos... Não, essa noção de construção não é boa. O mundo surge coemergente com a nossa própria mente. Do mesmo modo com que o templo surge coemergente com os budistas, com a perturbação budista. Só que isso é muito mais profundo do que isso, né? Mas vamos deixar assim. Junto com esse movimento, tem a mente, tem energia. Se não tiver energia, não tem, é fake. A palavra fake significa “sem energia” (risos). Fake vem do Páli (risos). É assim mas não é, entende. Porque a energia não se move. Aquilo parece que é mas não é. Namoro fake é uma das piores coisas. Não funciona, né? É o par no baile de 15 anos. Acho aquilo meio estranho, assim, mas tudo bem, né? Agora, a gente pode nem entender porque uma coisa é fake. Mas é a energia, os 5 lungs. Aí a gente vai praticar o que? Shamata fake ou shamata? Tem impura, pura e fake. (risos) Tem que ser com Bodichita, é tipo namoro fake, não vai funcionar. E o Bodichita não é falso, tem que ser verdadeiro. E o Bodichita verdadeiro vem do que? Nós em contato com a água e com o lodo, aparece ou não aparece a compaixão, enfim? Então, no inicio a gente senta com o corpo fechado, não vê nada. Só pra gerar estabilidade. Depois nos abrimos a estabilidade. Mantemos a estabilidade, mas aberta. Nesse encontro, a semente da iluminação vai se irrigar e nutrir de que? Do que tem no mundo? Lodo e água. Negatividade e sofrimento. Negatividade e sofrimento é que vai gerar Bodichita, pessoal. Não é assim, vou encontrar pessoas maravilhosas e virar budista. Não é isso. Nós vamos encontra a complicação. Bodichita já é o início e já é a essência da iluminação, da natureza búdica. É só seguir Bodichita, nós vamos até o fim. Então, nós tamos no início do início e nós já tamos no fim. Assim que se conecta motivação com iluminação. Ninguém vai conseguir movimentar motivação senão a partir dessa fonte primordial, que é a própria natureza de Buda, que brota na semente que começa a eclodir na Bodichita. Sem Bodichita,, ... É de rezar pelo praticante. Cuidado. Porque ele tá praticando bondade, tá praticando boas coisas mas ele vai se esgotar. Então a gente tem que desviar um pouco ele pra ele não ficar sério demais. Se ele ficar sério demais, ele vai se desviar mais adiante. Não podemos deixar o praticante ficar muito sério, senão ele vai achar que ele tá no lugar certo e ele vai se esgotar. Tem que ter cuidado pra não deixar o outro se esgotar. Em qualquer etapa do caminho em que a gente esteja, a gente sempre pode melhorar Bodichita. Como é que a gente vê? Em alguns casos, a gente encontra o lodo e a água e aí brota o talo. Mas não com a sogra, não com o chefe, não com o vizinho de cima que tá vazando no banheiro há um ano e meio, não com o cara que fechou no tráfego etc. Não com o namorado da filha. Aí vocês vem, a gente vai ter que estar sempre melhorando, ajustando isso. A gente vai ser desafiado. Bodichita é sempre sorrir pra todas as pessoas? Também não é. 4 ações: poder, pacificadora, incrementadora e irada. Poder é Bodichita – não se mover. Ação de poder. Na tradição Vajrayana, nós vamos praticar a essência do Siddi. Chagdud Rinpoche dizia: “Tem os mestres que lidam com corsas e tem os mestres que lidam com dragões.” Viu, Cris? Rinpoche lidava com dragões. Ação de poder. Facilmente. Nem tremia. Pode manifestar qualquer coisa, Rinpoche tá ali... Quando o outro baixou a energia, ele pá... Pá com o Darma, né? (risos) Então, qual é a essência da capacidade de ação compassiva no mundo? Ação de poder. Como é que nós treinamos ação de poder? Shamata. Pura. Baseada no lung. Não é na insensibilidade que nós ganhamos o poder sobre as aparências. É no equilíbrio da energia diante das aparências que nós ganhamos o equilíbrio da energia diante das aparências... Que é a essência da ação de poder. Se eu não descrever energia não tem como descrever ação de poder. Ação de poder é o quê? Manter a mente fixada numa coisa enquanto outras coisas acontecem. Mantenho a energia. Minha mente é livre. Ela pode andar por vários lugares, reconhecer várias coisas, mas ela não move a energia. Aí quando eu preciso me movimentar eu me movimento com a lucidez do Buda e não com o processo da energia perturbada. Não vamos nos mover assim. Se a gente mantém a energia equilibrada, dessa energia equilibrada brota a compreensão lúcida. Porque essa energia equilibrada é a base de Darmata. Vocês vão estudar depois no Pico do Junípero, Guru Rinpoche falando dos 5 bardos, aí nós temos os 6 selos. Os 6 selos começam com: sele as aparências com a vacuidade, sele a vacuidade com as aparências, sele aparência e vacuidade como inseparáveis, sele a inseparatividade de aparência e vacuidade com a grande bem aventurança e sele a grande bem aventurança com a ausência de pensamentos. Só que essa ausência de pensamentos, vocês convertam isso pro nível de energia. Com a não flutuação da energia. Com a ausência de referenciais condicionados pra mente e pra energia. Não é assim: posição da mente. É a ausência de referenciais. Na seguinte, sele a ausência de referenciais com Darmata. Aí, como nós tamos sentados em Darmata, da ausência de referenciais condicionados, brota a lucidez do Darma. Aí o Buda – pluft – ele aplica o Darma. Ele tá equilibrado. Energia equilibrada. Olha pras coisas, sem condicionantes, aí ele vê como elas se montam. Aí ele sabe desmontar. Isso é o Darma! Mas como é que ele consegue fazer contato com as aparências das coisas? Porque a energia dele não se move. E porque ele também não tá baseado em condicionamentos. Ele consegue fazer contato. Ele faz contato lá dentro. Isso é próprio da onisciência. Capacidade de entrar no mundo dos outros. Entrou ali, aí ele responde ali dentro. A resposta ali dentro é o Darma. Esse Darma vai surgir como? Ação de poder – não se mover. Segundo lugar – ação pacificadora. Ele olha e começa a falar o Darma de forma pacificadora. Acalma o outro. Por exemplo, lembra a natureza de Buda do outro, lembra o aspecto de liberdade que o outro tem, lembra o aspecto imortal dele, lembra que – enfim – ele não é a complicação que ele pensa que tá vivendo. Pacifica. Aí, a incrementadora – aponta as qualidade que o outro não tá vendo em si mesmo, dá ao outro o que ele já tem. E aí tu bate pra dissolver o que não é verdadeiro – ação irada. Ação irada é uma ação compassiva: tu tira o que não é do outro. Tu tira a confusão dele. Como ele tem apego, isso parece uma ação irada. Mas, no que ele se livra daquilo, alivia. É como tirar um espinho de alguém. A pessoa não quer que o outro vá lá e arranque o espinho... Depois que arranca, faz bem. É como uma pessoa com osso quebrado. Não quer que alguém pegue aquilo, puxe e bote no lugar. Mas depois que tu pega, puxa e bota no lugar fica bom. Então, isso é ação irada. A ação irada é compassiva, não é contra alguém. Essas 4 ações são compaixão, pessoal. Mas primeiro brota o talo do lótus... Isso vai surgir como as pétalas do lótus, mais adiante, meios hábeis. No início, a gente não tem isso. Mas nós vamos treinar em shamata a estabilidade da energia, que é a estabilidade da mente, que também conecta isso com os 6 selos, com nossa capacidade de ver as coisas e agir de forma adequada. Naturalmente, se a gente não tiver capacidade de shamata, como que nós vamos parar diante das coisas? Nossa mente girando o tempo todo... Mas quem quiser andar rápido nisso, equilibra a energia. Porque a dispersão da mente não vem do aspecto cognitivo, ela vem do fato de que cada pensamento que eu tenho, que brote, movimenta energia. Mas, se eu tiver a energia equilibrada, o pensamento aparece e não desloca. Então, eu não tenho a sequencia. Porque ele aparece, mas aparece sem força. A força do pensamento que nos desvia é que é o problema, não é o pensamento. A força da discriminação que eu faça é que desvia e não a discriminação. Então, nós precisamos dessa capacidade de manter o equilíbrio da energia pra poder fazer as discriminações, raciocinar, entrar no mundo dos seres sem ser arrastado. Esse aspecto de energia é o aspecto sutil. Se vocês estabilizarem no aspecto secreto, ele é mais profundo do que o aspecto sutil, da energia. Vocês não precisam mais focar nos 5 lungs também. Aí vocês podem entrar nas experiências, deixar os lungs flutuarem, mas vocês não tão dentro. Porque vocês tão equilibrados no aspecto secreto. Então, do mesmo modo que vocês, equilibrados no aspecto do lung, entram no aspecto de mente e não se arrastam, vocês equilibrados no aspecto de secreto e de lung, entram no aspecto de mente e não são arrastados. Aí, vocês ganham mais capacidade de penetrar no mundo dos outros. Tudo isso vocês vão obter treinando em shamata. Só que essa shamata vai se fundir com presença. Essa shamata tem que ser potencializada por vipássana. Se eu não entender a vacuidade e esse processo todo – que é vipássana – eu não tenho como potencializar shamata. Então, na medida em que nós entramos em shamata em alguma extensão, nós conseguimos entrar em vipássana. E aí nós vamos indo... Por isso que vipássana é o quarto item, que é o Prajnaparamita. Mas aí tem o terceiro item, metabavana. Então, metabavana é super importante. A gente primeiro faz motivação, depois shamata e então metabavana. Porque metabavana é crucial? Porque ela remove a maior parte dos problemas que a gente tem, que fazem flutuar nossa mente, as relações com outras pessoas. Só que as relações com outras pessoas não são relações com outras pessoas, são nosso brotar cármico. Os nossos referenciais cármicos intensos surgem de modo coemergente na aparência de outras pessoas perturbadoras ao redor. Então, se eu quiser saber como está a minha mente, eu descrevo o que eu tô vendo ao redor. Se eu olhar pra dentro de mim eu não consigo ver, mas se eu olhar pra fora e ver o que é que eu tô vendo, eu tenho um mapa da minha mente. Logo, antes do diagnóstico, é melhor a gente olhar pra cada uma das pessoas que a gente tá vendo do lado de fora e dizer: “Que ela seja feliz, que ela supere o sofrimento, encontre as causas da felicidade, supere as causas do sofrimento”. Isso baixa as aflições mentais imediatamente. Porque troca o olhar. Mesmo que a gente diga: “Não tenho como olhar praquela pessoa e dizer – que ela seja feliz. Pense! Ela aprontou, fez isso e isso. Eu, cordeirinho, digo que ela seja feliz? Isso não dá.” Ainda assim, “Que ela seja feliz, que ela supere o sofrimento, encontre as causas da felicidade, supere as causas do sofrimento”. Vocês olhem isso como quem ultrapassa o seu carma. Direto. Ao vivo e a cores. Percebam assim: quando vocês olham pra alguém com o olhar negativo, veja o que acontece dentro de vocês. Vocês tão fixados, com energia ferida e com a mente presa. Vocês querem uma flecha dentro de vocês, que tão pronto o outro aparece, essa flecha é sacudida dentro de vocês e vocês sofrem? Vocês querem isso? A gente não quer... Então como é que a gente vai tirar essas flechas? Metabavana. Tem duas modalidades. Uma modalidade impura, que é: “Que o outro seja feliz” (lama gesticula pra longe) e uma modalidade pura, que é “Que o outro seja feliz”. “Que o outro seja feliz mas vá andando” é a modalidade impura. Super importante metabavana. Aí vem o Prajnaparamita. Aí, no Prajnaparamita a gente entende aquilo linha a linha... Entende forma, sensação, percepção mental e consciência. Se a gente puder entender isso, incluindo originação dependente é uma boa coisa. A gente vai entender originação dependente produzindo as formas, originação dependente produzindo as sensações, originação dependente produzindo as formações mentais, a consciência... Cada uma delas. A gente vê que tem um conjunto de fatores que produz aquilo. Isso conecta diretamente com yoga dos sonhos. Direto. Sem separação. Porque as aparências, como eu vejo, são surgidas de originação dependente através das formas ilusórias, sensação, percepção mental e consciência. Só que as formas não são apenas ilusórias, elas são mágicas e seguem se movimentando. É o processo de sonho, ele é mágico. Nós sonhamos dentro de bolhas. A gente vai vendo isso, direitinho, assim. O Prajnaparamita dialoga direto com yoga dos sonhos, essas práticas que a gente ouviu agora, maravilhosas, elas vem paralelamente, potencializando toda a nossa compreensão de Prajnaparamita, nesse estágio de vipassana aqui. Tá ótimo, melhor praticar de manhã, de tarde, de noite, dormindo, como for. Praticar nos 5 bardos, perfeito. Aí nós vamos indo. Estamos no quarto item dos 21. Então, a gente vai começar com esse aspecto, que é o aspecto de Guru Rinpoche sobre o lótus. Aí nós vamos indo, vamos gerar os meios hábeis. Quando a gente sentar sobre o lótus, significa que eu me dei conta que eu não tenho mais nada a fazer em nenhum outro lugar. Eu tenho que me movimentar a partir disso. Se eu não me movimentar assim, tô perdendo tempo. Aí, se brotar energia pra se movimentar desse modo, nesse contexto, nós vamos chamar de intenção iluminada de Guru Rinpoche. Quando na chuva de bênçãos a gente pede as bênçãos de Guru Rinpoche, a gente pede as bênçãos da intenção iluminada de Guru Rinpoche. Que desçam os Siddhis, que desça a capacidade nossa de movimentar energia dentro dessa estrutura. Que a nossa energia não se movimente de outro modo, mas se movimente assim. Se a gente tiver a benção dessa descida da energia, a coisa vai, pessoal. É isso. Isso é Bodichita ainda. Então, Bodichita dialoga com todas as partes do ensinamento. A motivação dialoga diretamente. Não é assim: vou fazer a motivação, depois vou seguir... Aquilo dialoga diretamente com cada uma das partes do ensinamento. Naturalmente, depois tem... Guru Rinpoche é o espaço. O espaço se manifesta naquela forma, a liberdade se manifesta daquela forma. Aí nós tamos olhando já adiante. Guru Rinpoche é a própria 5 sabedorias. Qual é o mantra dele? Om Ah Hum (corpo, fala e mente) Vajra Guru Padma Siddhi Hum (5 sabedorias, pessoal, 5 Djani Budas). Com os lungs. Isso é Guru Rinpoche. Aí nós vamos convergindo pra parte final... Agora, como é que a gente consegue assumir e manifestar 5 sabedorias, 5 lungs, como é que nós vamos fazer isso? A gente precisa primeiro ser capaz de repousar no espaço não condicionado: Darmata. A grande mãe Darmata. Por que a grande mãe Darmata? Porque é a mãe de todos os Budas. De Darmata brotam os Budas. Brota a mente das 5 sabedorias, os 5 lungs, a compreensão, a ação... Brota disso. Isso é verdade. A gente precisa ter coragem pra se mover. Paciência. Porque a gente vai se enganar, vai se atrapalhar. Perseverança. Aí, chega no vigésimo primeiro item, né? Aquilo faz a volta, melhorou nossa motivação. Seguimos no método circular. Vamos girando. É o que nós tamos fazendo... Se a gente se desviar... Desviar significa o quê? Eu começo a surfar numa construção da mente. Artificial. Baseado num tipo de samsara, numa fixação de algum tipo. Aquilo vai indo como uma bolha até que – pop. Aí tu volta. Isso o que é? Transmigração. É o que a gente sabe fazer no samsara, nós transmigramos de uma bolha de realidade pra outra bolha. Nós tamos como um pássaro num galho, nos preparando pra nos transmigrar para outro galho. O tempo todo. Dentro dessa mesma vida. E em vidas sucessivas, uma atrás da outra. Isso, como diria o Alan Wallace, basta! Isso é perda de tempo. Vamos pensar, né? Transmigração é perda de tempo. Mas quando a gente se perde, nós tamos transmigrando aonde? No espaço básico. A gente não tem outro lugar. Seja qual for a bolha de realidade onde a gente tá imerso, é uma bolha vajra. Tudo o que tá ali dentro é montado por originação dependente. Nossa capacidade criativa de construir coisas artificiais e considerar aquilo como realidade e atar com outras pessoas e fazer aquilo tudo flutuar. A realidade é vajra, portanto vazia, portanto luminosa. Então, a nossa própria bolha, é melhor a gente nem explodir ela. A gente dá uma paradinha e contempla ela. Uau, que incrível. Isso parece super real, super verdadeiro... Quantas pessoas flutuando dentro dessa bolha, tudo junto. Parece verdadeiro, né? E ainda assim não é. Ainda assim, isso é apenas uma bolha. Aí a gente consegue atravessar pra fora, atravessar pra dentro... Não precisa nem explodir a bolha. De onde vem essa capacidade de atravessar pra fora e pra dentro? Vem da realização progressiva de shamata. Se a gente for capaz de movimentar a energia, movimentar a mente, sem se perturbar, repousado no aspecto secreto, isso é prática de presença. Dessa prática, ainda que a gente olhe tudo e perceba que é onisciência e sabedoria do Buda nos vários lugares, a gente tá ali dentro, não precisa estar preso. A gente se levante e é capaz de gerar e ajudar as pessoas com meio hábil. Onde for. Então, nós tamos nesse caminho. O caminho do Buda, né? E agora eu descrevi, essencialmente, o item 1, né? Chenrezig. Eu acho comovente o fato de Chenrezig ser a base do Budismo. E, às vezes, isso também não é bem entendido. Porque dentro dos vários lugares, as vezes as pessoas vao aspirar uma coisa rígida de algum jeito. E as coisas que são muito acolhedoras, parece que elas não tem estrutura. Então a gente oscila de um modo pro outro. Mas eu acho maravilhoso a gente se defrontar de novo e de novo com a necessidade da gente ultrapassar as estruturas. Aí tem o Sutra do lótus que trabalha justo nesse ponto. Porque o caminho Theravada... Nem vou dizer o caminho Theravada. O caminho da primeira volta do Darma, né? Os Theravadas, por exemplo, não se colocam, eles mesmos definindo, eles não se colocam como primeira volta do Darma. Eles dizem: “Nós temos compaixão” e é uma coisa mais ampla. Então eu não limitaria isso, né? Mas se a gente quiser chamar o caminho Hinayana. Mas ainda assim, o caminho Hinayana não tem ninguém. Ninguém se considera o caminho Hinayana. Então também não quero usar isso. Mas, se a gente pensar, de uma forma mais estreita, como se nós tivéssemos baseados em recomendações que a gente tem que obedecer, então existe o sutra do lótus que vai trabalhar no momento da sanga em que a sanga viu isso. Ela viu a capacidade de sustentar os votos e manter tudo como um obstáculo. Curiosamente, né. O Buda conta essa história. Antes disso, ele manda todos os discípulos que tao fixados na primeira volta do Darma se levantarem e saírem. Todos os Theravadas e Pratkabudas (?). “Agora é assim: vocês se levantem e vazem, que eu vou contar a coisa pros discípulos Mahayana.” Aí ele começa a contar, né? Aí ele diz: “Havia numa cidade um mercador muito rico e ele tinha vários filhos. Um desses filhos desgarrou-se, ou seja, ele se levantou e saiu de casa e foi embora, foi pelo mundo. Ele não se deu bem. Ele ando por vários lugares e ele não se deu bem. Aquilo foi tão duro pra ele que ele terminou ficando esquecido de onde ele tinha nascido e do que tinha acontecido com ele. Assim ele andou nos vários lugares.” Isso lembra um pouco a história que o Alan Wallace contou pra nós e lembra a história de Chagdud Rinpoche, do iogue da ilusão, que eu também já contei algumas vezes. Mas essa história é Mahayana. Tá lá no sutra do lótus, vocês podem ler isso. Aí esse filho vagueou, vagueou, vagueou... Aí teve um dia em que o filho - mal tratado, maltrapilho, meio doente, meio lascado - entrou na cidade onde o pai aquele comerciante rico que vivia numa grande mansão, aquilo tudo, muito bem, assim... E o pai queria reencontrar o filho. E o filho entrou na cidade e pensou: “Eu precisava de alguém que me ajudasse.” Aí ele viu que havia aquela casa muito grande, aquele lugar muito generoso. Aí ele se aproximou. Mas quando ele se aproximou ele viu que ele tinha uma aparência horrível e aquele era um lugar de gente arrumada, direita, fazendo tudo direito. E ele não tinha aquilo. Então ele se aproximou e virou as costas e foi embora. Aí o pai viu ele e disse: “Esse é meu filho.” Aí quando o filho virou as costas e foi, ele pegou dois ajudantes e mandou: “Vai lá e tragam ele.” E aí quando os ajudantes pegaram o menino ele começou a gritar. “Socorro, socorro! Eles tão me agredindo, eles vão me machucar! Por favor, me solte, me libere, não me arraste!” Aí eles largaram. E o menino foi embora. Aí o pai: “Como é que eu vou fazer isso? Não posso pegar ele e puxar. Não tem como. Como é que eu vou fazer?” Aí ele mandou um emissário atrás do menino e disse pra ele: “Olha, nós tamos precisando de alguém pra remover estrume das cocheiras. Você toparia um emprego desses? Vai ganhar tanto...” E ele disse: “Sim! Esse é um grande emprego!” Ele achou aquilo o máximo, remover estrume. Aí ele foi trazido pra lá e começou a trabalhar. O pai sempre de olho nele. Aí, ele foi treinando. Botou ele pra gerar qualidade, de modo indireto, né? Ficou um bom recolhedor de estrume, limpava a pá, fazia tudo direitinho. Aí ele foi dando outras coisas pra ele. E foi subindo de gradação. Aí chegou um momento em que ele era o principal ajudante do pai. Aí aquilo tudo foi indo até que ele disse: “Você é meu filho.” Aí ele disse “Papai!”. Então, isso gera o processo de Chenrezig de acolher a pessoa no lugar em que ela tá, do jeito que tá a mente dela. E não formatar ela a um processo. O processo Theravadayana (?) e Pratchabudayana (?) seria um processo no qual a gente puxa o ouro e encaixa ele de um certo jeito, a funcionar de um certo modo. E o processo Mahayana é assim, ele começa no lugar e na forma onde o outro tá. O CEBB é Mahayana. Nós vamos acolher as crianças como crianças, as mães como mães, as grávidas como grávidas, os pais como pais, cada um do jeito que for. Mas aquilo tá em movimento. Esse é o processo. É muito melhor. Como o mundo é complexo, nós temos que estabelecer relações em todos os lugares. Proteger o ambiente, estabelecer relações. Todos os seres aspiram felicidade, aspiram se livrar do sofrimento. Isso é escandaloso, pessoal. Não é o Darma. Isso é a roda da vida. Isso é o sétimo elo dos doze elos. Isso é vedana. Eu quero o que eu gosto e não quero o que eu não gosto. Entende? É isso. Isso é a base do apego. Mas serve. Tudo bem. Os seres tão nisso, não tão? Eles querem a felicidade e querem se afastar do sofrimento? Oh, que profundo. Isso é super profundo. Isso é a essência do afundar no samsara. Mas, tudo bem, serve. Se você tem isso pra oferecer, bateu. Tudo bem. Aí é o pai Bodisatva cuidando do filho. Dando estrume pra ele remover. “Você quer a felicidade, quer se livrar do sofrimento? OK. Vou lhe oferecer boas coisas de felicidade e vou lhe tirar as coisas difíceis.” As boas coisas e felicidade são estrume porque elas viram sofrimento, rapidamente... Elas contaminam, elas são o lodo. Mas serve. Nós vamos começar por aí. Esse é o processo. A linguagem do mundo é essa. Os seres aspiram a felicidade e a se livrar do sofrimento. Então, serve. Nos vamos começar depois desse ponto. Como é que começa? É assim: se você aspira a felicidade e aspira se livrar do sofrimento, olhe o que você ta fazendo pra você mesmo e cuide de não criar sofrimento e de criar felicidade pra você mesmo, não seja incoerente. Se você quer a felicidade e quer se livrar do sofrimento, cuide dos outros. É óbvio! Se você quer a felicidade e quer se livrar do sofrimento, cuide onde você anda pra você não ferir, não causar sofrimento pros regentes dos espaços onde você tá. Se você quer a felicidade e quer se livrar do sofrimento, cuide da natureza ao redor, cuide dos outros seres todos. Começou o caminho espiritual, do lugar onde a pessoa tá. Quando nós tamos ali, a gente diz “Olhe pra você”, imediatamente a gente vai entender a coemergência e os nossos obstáculos e a gente vai começar um caminho de transformação interna. Quando a gente olha os outros, olha as autoridades, olha a natureza, nós tamos vendo imediatamente o Darma aparecendo na forma das coisas ao redor e a gente entendendo o que tem que fazer e o que não tem que fazer. Imediatamente, brota. Então, mesmo que a gente teja começando num ponto que é o sétimo elo vedana, nós transformamos o sétimo elo vedana em caminho espiritual. Aliás, pessoal, esse é um ponto maravilhoso de Chenrezig. Que a gente deveria fazer prostração muitas vezes. Porque nós pegamos um veneno, um obstáculo e transformamos em caminho. A essência do Darma é transformar obstáculos em caminho. Porque o que as pessoas tem senão obstáculos? Onde é que elas vão começar? Elas vão começar onde elas tão. Então, se você pegar as sadanas, os ensinamentos, seja o que for, eles começam em um tipo de problema. Essa é a razão também porque a gente pode criticar os próprios ensinamentos. A gente diz “Ah, esse ensinamento tem tal coisa, ele considera que então o apego, o vedana é sólido...” Não, não é que a gente considere que o vedana é sólido. Mas pras pessoas que vedana é sólido, vedana é sólido. A gente transforma aquilo em caminho. Então tem essa capacidade extraordinária do Darma de pegar qualquer veneno e transformar qualquer veneno em caminho. Só que, quando a gente começa com o ensinamento, com a linguagem do ensinamento, dentro daquela linguagem, aquilo tem que parecer que é sólido, senão a pessoa não tem conexão, entende? Se eu começar dizendo que aspirar felicidade e aspirar se livrar do sofrimento é um problema, a pessoa não tem como se conectar com aquilo. Eu digo, “Ah, sim, você quer felicidade e se livrar do sofrimento? Maravilhoso. Muito bom.” Aí a pessoa começa com aquilo torto, mas aquilo torto loga dá um rumo. Então todos os ensinamentos podem ser questionados porque eles começam como que reificando alguma coisa, que é o lugar aonde o outro tá. Mas a reificação daquilo não é verdadeira. Aquilo parece que é uma reificação, mas não é. A pessoa sai daquele ponto e vai andando. Mas se vocês quiserem criticar os ensinamentos vocês vão olhar assim... Do mesmo modo, nós podemos, por exemplo, pegar shamata e criticar shamata. “Tem um mundo inteiro de sofrimento e você agora vai se isolar em meditação? Bá! E você ainda fala em compaixão? Olha o Buda que andou caminhando em todos os lugares! Agora você acha que isolamento é isso... Agora você não quer lavar louça, não quer cuidar das crianças, não quer nada, quer ficar com essa cara de iluminado aí? Isso não é nada.” Aí nós podemos criticar qualquer coisa dentro do Darma. Só que aquela coisa é o início do caminho, entende? Eu acho maravilhoso que – seja o que for que a gente tiver fazendo – a gente pode transformar aquilo em caminho do Darma. Esse é o caminho Mahayana. É isso. Quanto mais abrangente, mais longe de qualquer coisa budista for o caminho do Darma, for o acolhimento, maior a visão do mestre. Então vocês olhem o Dalai Lama está lá adiante. Quando ele teve no Brasil da última vez, eu fiquei comovido. Porque tava ele sentado, deixando o neurocientista falar. Bá, que maravilha, ainda ouvindo aquilo. Então eu tenho certeza que o neurocientista agora tá assim – não tá entendendo mais os seus neurônios. Tá andando em outra direção. Ele vai acolhendo as pessoas, de forma ampla, de forma muito ampla. Ele pode fazer isso. A gente pensa que o ensinamento mais profundo é o mais sofisticado, sobre a natureza vazia do vazio. Mas o ensinamento mais abrangente é que é capaz de pegar a pessoa que nunca seria pega de outro modo, e poder puxar e colocar aquilo... Tudo isso girando, né? Tudo isso girando como um processo encadeado. Uma coisa conecta na outra e o Darma vai girando ali dentro. Maravilhoso isso. Nós tamos dentro desse processo. Acho super feliz que a gente teja assim. Por isso, muito bom que cada um tenha uma cor, um jeito de sentar, um cabelo... Porque cada um tá no seu lugar. Enfim, nós somos iogues na floresta das circunstâncias da vida. É dentro dessa floresta que nós tamos meditando. Também na floresta amazônica, na mata atlântica, nos vários lugares. Aliás, esse é um outro ponto – só pra encerrar, agora – eu acho super importante, sabe? Dadas as circunstâncias em que nós tamos vivendo, que a gente medite na natureza. Super importante. Talvez esse seja o exemplo que nós tenhamos que dar nesse tempo. Por exemplo, quando a gente senta na natureza, no final de um tempo, seres aparecem. Não é nada assim, seres de outro mundo, assim... Não, seres desse mundo mesmo. E a gente começa a vê-los e eles nos veem. Quando a gente vê os seres, com o tempo, a gente vai ver que eles tem a natureza de Buda. Isso inclui rios, montanhas, ar, árvores, insetos, seres de qualquer tamanho... A gente vê que eles tem a natureza de Buda. Então é super importante que a gente sente e veja que os seres tem a natureza de Buda. É o único jeito de salvar a biosfera, pessoal. Se a gente olhar a biosfera como recursos, já era. A biosfera não é recurso. É um processo completamente mágico surgido da mente do Buda na forma de originação dependente. A mente do Buda tá nos seres todos. A gente precisa ver isso. A gente precisa sentar e ver isso. Precisa recuperar a dignidade dos seres em todo lado. Se a gente conseguir recuperar a dignidade do nosso olhar e reconhecer os seres com dignidade, eles tão salvos. A doença da biosfera é que nós perdemos a capacidade de olhar com olhar digno e ver a dignidade dos seres onde eles estão. Os seres viraram recursos. Só que não só os seres: os seres humanos também viraram recursos humanos. E nós temos o olho dos seres famintos sobre os outros, sobre a natureza, sobre tudo. Aí isso vai marcar o limite do nosso alcance da civilização, como nós tamos indo, né? Pode ser que ela seja como uma haste de arroz que tenha gerado outras sementes e vá secar mas pode ser que não. Pode ser que ela seja uma planta frondosa que vai dar frutos e sementes e flores muitas vezes antes de secar. Isso vai depender da nossa capacidade de olhar de forma mais ampla ou não. Seja como for, é um momento interessante esse que nós tamos vivendo enquanto sanga, enquanto humanidade. Se a gente puder entender isso que tá acontecendo é uma boa forma de viver esse tempo. Uma forma que conecta diretamente com nossa prática. Isso tá ligado a Bodichita, né? Se isso movimenta nossa energia, Bodichita tá ali. Aí a gente “Tum, pá, ho”. “Ho” é o nome secreto de Bodichita. Então, nós vamos fazer a dedicação. (Dedicação de méritos)